No dia 29 deste mês, Pelotas ganha uma nova proposta arquitetônica e cultural: o Rooftop Vanguarda, primeiro terraço da cidade dedicado à cultura. Localizado no 12º andar do Edifício Vanguarda, no Parque Una, o espaço reúne gastronomia, literatura, arte e tecnologia em uma curadoria de experiências imersivas. A programação gastronômica será contínua com brunch das 8h às 18h, happy hour das 18h às 20h e jantar das 20h à meia-noite, assinados pelo chef Emil Sevatskiev.
O ambiente multifuncional abriga o Capítulo 12, que combina restaurante, bar e café, livraria, galeria de arte e salas para eventos. Dividido em dois espaços principais — o Salão e o Lounge —, o projeto é interligado pelo bar e cercado por estantes repletas de livros. Há também salas reservadas para reuniões, áreas para celebrações e o terraço com vista privilegiada para o Parque Una, ideal para assistir ao pôr do sol.
O Rooftop Vanguarda é resultado da união de cinco sócios que reúnem experiências complementares para criar um espaço cultural e gastronômico inédito em Pelotas. Os empreendedores são Bety e Gelso Lovatel, da Livraria Vanguarda; o arquiteto Alexandre “Kvra” Rodrigues; o chef búlgaro Emil Sevastakiev e o administrador Raphael Belloni. “É o resgate da alma vanguardista de Pelotas. Dar o melhor de nós, aqui, onde vivemos. Um café e um restaurante à altura de qualquer capital do mundo, mas no coração da nossa cidade. Um novo tempo para o conceito tradicional de livrarias, uma nova forma de viver a cultura. Em todos os sentidos, o Rooftop Vanguarda é nosso. É de Pelotas”, comenta Bety Lovatel.
Obras inéditas
Na inauguração, a galeria do Capítulo 12 abre a exposição Cinco em letras, do Grupo 5, formado no período pós-pandemia pelos artistas Lauer Santos, Graça Marques, Lúcia Weymar, Rami Leandro e Gordo Muswieck. A amizade e o diálogo criativo começaram no PSJ, onde os artistas passaram a compartilhar ideias e organizar mostras coletivas.
Segundo integrantes, o convite para a mostra partiu de Lúcia Weymar e de uma das sócias do Capítulo 12, Bety Lovatel, da Vanguarda, que propuseram uma curadoria colaborativa. “Com a ideia de pensar a exposição de forma coletiva, unindo linguagens diferentes num mesmo espaço”, destaca Gordo Muswieck.
O título da mostra, Cinco em Letras remete a um dos elementos conceituais de cada fazer artístico: a escrita. “Encontrar esse elo que já vinha no trabalho de cada um”, fala Graça Marques. Por sua vez, Rami Leandro completa reforçando que cada artista trabalhou com a palavra na sua linguagem poética. “Tudo linkado com a livraria Vanguarda”, diz Muswieck.
Graça Marques, por exemplo, que costuma utilizar a colagem em seus quadros, aproveitou para levar o papel para essa série inédita. “Isso mesmo comecei a trabalhar em papel, que sempre foi um material que me fascinou e como extensão desses livros antigos”, comenta a artista.
Com uma forte ligação no grafitti, Gordo Muswieck também trouxe a colagem para as suas telas. O artista visual aproveitou o desafio para resgatar um antigo projeto. “Eu também tenho recortes de livros, de lambes de cartazes de rua, o meu trabalho vem da rua. Trabalho também com escrita, com frases, com palavras”, fala.
A aquarelista Rami Leandro apresenta a série Da mancha à palavra. Com uma obra marcada pelas aquarelas que retratam o patrimônio histórico edificado de Pelotas. Porém misturar escritos às suas criações não é novidade para a artistas. “Todas as aquarelas que eu fiz do patrimônio, os mares, eu sempre escrevi alguma coisa para as pessoas. Essas escritas em papel vegetal, eu sempre tiro uma frase de livro, de uma música”, comenta.
Essas frases que acompanham as aquarelas da artista, em geral são enquadradas pelos compradores. “Eu pensei por que não unir a mancha à palavra, trazer aquilo que me inspira para fazer a coisa mais figurativa do patrimônio”, questiona. Dessa forma Rami apresenta trechos de livros, de músicas com essa mancha da aquarela, que compõem os desenhos dela. “É uma abstração daquilo que eu faço, uma síntese do que me inspira”, reflete.
Acrílicos e azulejos
Lauer Santos apresenta uma série de trabalhos em acrílico, uma proposta iniciada em 2000, na qual explora a relação entre texto, cor e brilho. “São peças múltiplas, com superfícies luminosas. Para cá eu trouxe um conjunto de 12 trabalhos, trazendo questões sobre o tempo”, conta.
As 12 obras são divididas em quatro temas, usando as cores vermelho, preto e branco. A escolha das palavras para cada peça passou por poesias, expressões populares e trechos de músicas. “Percebi que, ao meu redor, sempre havia frases sobre esse tema. Passei a incorporá-las nas obras.”
A série Rejunte-me, de Lúcia Weymar, dá continuidade a trabalhos anteriores da artista, com fotografias digitais sobre canvas, originadas de seu pós-doutorado em Portugal. As imagens de azulejaria ganham sobreposições de palavras e signos em tinta acrílica, transformando paredes portuguesas em muros brasileiros. A proposta dialoga com literatura e arte urbana, explorando a ideia de “rejuntar” memórias e vivências. A mostra inclui pinturas, objetos tridimensionais e referências a Foucault e à música portuguesa.