Documentário refaz a história do grafite na cidade de Pedro Osório

documentário Trajetos

Documentário refaz a história do grafite na cidade de Pedro Osório

O curta foi escrito e dirigido pelo artista visual Emanuel Santos, que disponibilizou a obra gratuitamente pelo Youtube

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Documentário refaz a história do grafite na cidade de Pedro Osório
Das pichações aos murais artísticos foram cerca de dez anos de evolução (Foto: Gabriel Leão)

Está disponível gratuitamente pelo Youtube o documentário Trajetos. A obra refaz a trajetória do grafite em Pedro Osório, desde as primeiras pichações no final dos anos 2000 até os dias de hoje. O audiovisual foi liberado na noite de ontem pelo canal do artista visual Emanuel Santos, que roteirizou e dirigiu o curta. O projeto teve o financiamento da Lei Paulo Gustavo, por meio de edital de 2024 da Secretaria de Cultura do município. A obra tem 15 minutos e foi concluída no ano passado.

A data de lançamento, 11 de agosto, foi escolhida para coincidir com a celebração do Dia do Hip Hop. “É uma data emblemática para a cultura Hip Hop. A gente considera o dia 11 de agosto como o marco zero”, conta Emanuel Santos. Nesta data, em 1973, o DJ Kool Herc fez uma festa de volta às aulas a pedido e organizada pela sua irmã Cindy Campbell, ambos grafiteiros do Bronx, em Nova Iorque. A dupla nascida na Jamaica uniu em uma mesma festa os quatro elementos (DJ, MC, B-Boy e B-Girl e o grafite) que juntos formariam e caracterizariam a partir dali o hip-hop.

Filme foi produzido no ano passado (Foto: Gabriel Leão)

“Aproveitamos esse dia para falar desse grafite numa cidade do interior do Estado, numa cidade pequena, com poucos habitantes”, fala o diretor. O documentário teve as imagens captadas por Gabriel Leão, que também fez a edição. O filme conta com depoimentos dos artistas: Iniv Beats; L.O.B.O.; Bero; Agabe; Dogue e Ga5.

Além das pichações

Emanuel Santos é um desses artistas do grafite de Pedro Osório. Ele faz parte de uma segunda geração de grafiteiros, que se aventurou a ir além das pichações e levar a arte feita com sprays de tinta para murais e painéis de forma artística.

Os primeiros grafites em Pedro Osório surgiram a partir de 2008. Quem conta esses primórdios é o V-Boy, artista natural do município. Hoje, ele atua como bitmaker e adotou o nome artístico de N.V..
No final dos anos 2000, Vi-Boy começou a assinar seu nome em pichações nos pilares da ponte e em alguns prédios abandonados.

“Nessa época, eles tinham acesso às tintas através das ferragens, então algumas ferragens não vendiam mais as tintas porque já sabiam o que eles iriam fazer”, conta Santos. Santos era ainda pequeno, mas acompanhava essa evolução com curiosidade.

A descoberta da arte

Mas a mudança significativa aconteceu após a realização de uma oficina que aconteceu na escola Doutor Pedro Pizzolato de Souza, realizada pelo V-Boy com o apoio da professora de artes Alta Inês. “E ela entra em contato com o V-Boy para trazer essa arte urbana para dentro da escola. Ele não trabalhava com isso, mas fazia os tags dele na rua”, relembra Santos.

V-Boy chamou o grafiteiro e artista plástico Vinícius Bero, de Pelotas, que foi ao município, junto com uma equipe de artistas, para desenvolver a oficina em Pedro Osório. Foi esse o primeiro contato de Emanuel Santos com o spray. “A partir daí que eu começo a grafitar. Depois de um tempo, eu comecei a fazer outras coisas. Até que eu entro na universidade ali por volta de 2015. E aí que eu começo a reencontrar o grafite e trazer essa prática de uma maneira mais presente na minha vida, tanto que até hoje eu grafito”, conta o artista e diretor do documentário.

Trabalho elaborado

Outro artista destacado no documentário foi Felipe Povo, artista pelotense que morreu em 2019. “Pelo fato da esposa dele ser de lá ele ia muito a Pedro Osório, fazia alguns grafites lá”, relembra Santos.

Os desenhos de Povo, junto com as oficinas de Bero, chamaram a atenção do jovem Emanuel Santos por serem obras mais complexas.

“O Felipe Povo foi um dos primeiros que eu vi, que tinha personagem, que era mais elaborado, que tinha toda uma questão técnica do spray, mais aprofundada. Com tinta de fundo, contorno, sombreado, luz, recorte. A primeira manifestação que eu vi, que tinha um valor artesanal e também artístico”, comenta.

Além dos relatos dessas e outras histórias, o documentário busca levar o espectador a refletir sobre o esses trajetos e como é que eles se interligam. “E essa conexão que o grafite faz entre as pessoas.”

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