Adultização

editorial

Adultização

Adultização
(Foto: Rodrigo Chagas)

Uma nova – e necessária – palavra entrou com força no vocabulário nacional nas últimas semanas: adultização, que é quando uma criança age, veste-se e se porta como um adulto. O vídeo do comunicador Felca no YouTube, em quatro dias, bateu 27 milhões de visualizações em um material que traz alerta sobre a exposição de imagem das crianças na internet, a exploração e a consequente erotização infantojuvenil nestes conteúdos. A repercussão foi tão grande que o presidente da Câmara dos Deputados já prometeu pautar o tema em breve.

As denúncias de Felca expõem um ciclo macabro e doentio em busca de engajamento, mostram como o algoritmo funciona de uma maneira que não freia em momento algum essa situação. Por vezes faz até o contrário, joga os conteúdos que erotizam as crianças e adolescentes ao público. É, basicamente, um solo fértil para um pedófilo, infelizmente. E isso joga luz ao papel da sociedade, da internet e das próprias redes sociais no combate à exploração infantojuvenil.

A presença de crianças em plataformas digitais é pouco ou nada regrada. O celular tornou-se em muitos momentos a “nova chupeta”, dado para a criança “se aquietar”, exposta a conteúdos com pouco ou nenhum filtro. E quando a criança passa para o outro lado da tela, e vira criador de conteúdo, a coisa se torna ainda mais nefasta: está com sua imagem exposta ao mundo, sem um freio do que receberá de feedback – e sabemos que a internet é cheia de ofensas e comentários depreciativos – e sem proteção devida.

A sexualização pelo engajamento é mais um sintoma, o mais terrível de todos, de uma terra sem lei, em que pais veem seus filhos como produtos para gerar engajamento e renda sem qualquer pudor, em que pessoas consomem esse conteúdo e em que as próprias plataformas se valem disso sem nenhuma vergonha. É uma mistura perfeita para uma grande vergonha. Passou da hora dos órgãos de controle tomarem a frente desse debate e resolverem, de fato, a situação. Um regramento claro e criterioso do papel da criança na internet não é censura, é cuidado e preservação. Frear a monetização é o primeiro desses passos e responsabilizar pais, influenciadores e plataformas é mais do que necessário.

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