A prefeitura de Pelotas busca criar mais espaços verdes. A informação foi confirmada pelo secretário de Urbanismo, Otávio Peres, durante participação no programa Debate Regional, da Rádio Pelotense. Para ele, Pelotas precisa de muitos parques, tanto em áreas centrais quanto nas periferias, especialmente nas áreas baixas.
A secretaria já tem dois projetos mais concretos em vista: parque na Chácara da Brigada e um “Parque Sul”. O primeiro, localizado próximo ao encontro do canal São Gonçalo com o arroio Pelotas, é uma propriedade da União. A prefeitura está em negociação para transferir a área para o município, transformando-a em um parque. O outro está associado à construção de um novo acesso Sul da cidade, ligando a ponte Alberto Pasqualini (conexão com Rio Grande pela BR-471) com o Porto. Ele seria implantado em um terreno municipal já existente.
Além disso, o secretário avalia que há a necessidade de conectar comunidades. A ponte sobre o canal do Pepino, que divide o bairro planejado Parque Una e o Navegantes, além da extensão da duplicação da Avenida Bento Gonçalves até a Avenida São Francisco de Paula são prioridades. O projeto prevê a construção de cinco a sete pontes para pedestres e veículos, com a promessa de que as duas primeiras começarão a ser executadas ainda em 2025.
Desafios
Peres, que é professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel, destaca uma estatística sobre o crescimento da cidade. Segundo seus estudos, entre 1985 e o momento atual, a área horizontal de Pelotas cresceu 2,4 vezes mais rápido do que o crescimento populacional. Esse dado revela um padrão de expansão, onde o desenvolvimento econômico orienta a produção de novos espaços, sem, necessariamente, atender às demandas sociais. “Nós produzimos cidade, certamente, orientada pelo desenvolvimento econômico, e não necessariamente acompanhando as demandas sociais”, afirmou Peres.
A consequência é um alto índice de espaços desabitados. O secretário estima que 30% a 40% da cidade pode ser considerada “ociosa” – com casas, salas e prédios vazios. Essa realidade contrasta com o déficit habitacional da cidade, um problema que o secretário considera um “objeto de acúmulo de riquezas”, onde o capital é investido em imóveis como forma de garantia econômica, mas sem atender à necessidade de moradia da população. A meta da secretaria é equalizar essa disparidade, orientando a produção habitacional para atender outras classes sociais.
Exploração dos espaços
Um dos pontos centrais da entrevista foi a relação entre a secretaria e as empresas de construção civil, especialmente em relação às áreas baixas da cidade. A experiência recente com eventos climáticos extremos, como as enchentes de 2024, reforçou a necessidade de preservar essas áreas.
Peres ressalta que a prefeitura está defendendo a cidade e, ao mesmo tempo, propondo um novo modelo de desenvolvimento. A solução para conciliar a preservação com o empreendedorismo está no uso de instrumentos urbanísticos já previstos no Plano Diretor, como a transferência do direito de construir. Esse mecanismo permite que proprietários de terrenos em áreas de preservação (como o Centro Histórico ou áreas baixas) possam negociar e transferir seu potencial construtivo para áreas mais favoráveis.
“Quando a gente preserva, a gente também está possibilitando o empreendimento”, explica o secretário. A ideia é que, ao invés de simplesmente proibir a construção, a gestão crie um sistema de compensação econômica que incentive a preservação e, ao mesmo tempo, promova o desenvolvimento em locais mais adequados.