A Margarida-da-praia (Grindelia atlantica), planta nativa e exclusiva do litoral sul do Rio Grande do Sul, foi oficialmente classificada como “criticamente ameaçada de extinção”, segundo estudo publicado na revista científica Conservation. A pesquisa é resultado da colaboração entre a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Embrapa Clima Temperado.
O estudo avaliou a situação da planta com base nos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), apontando que restam apenas duas populações conhecidas, com pouco mais de 600 indivíduos, localizadas nos municípios de Pelotas, Rio Grande e Jaguarão. A principal população está concentrada na praia do Laranjal.
O professor João Iganci, do Instituto de Biologia da UFPel e coordenador do projeto de extensão Pampa Singular, destaca a importância da atuação institucional no tema: “Hoje restam poucos indivíduos da Grindelia atlantica, e praticamente todos estão ao longo das praias de Pelotas, entre a [Colônia] Z-3 e o Pontal da Barra. É nesse cenário que a UFPel desenvolve estudos importantes e colabora para estratégias de conservação”, afirma. Ele também reforça que a universidade está à disposição para contribuir com ações do município que visem conter o avanço de espécies invasoras e preservar a vegetação nativa.
Esforço por detalhes
Um dos autores do artigo, Fernando Fernandes, ex-estudante da UFPel e atualmente doutorando na UFRGS, explica que os dados atuais são resultados de um esforço detalhado para levantar informações atualizadas sobre a espécie. “A gente tinha uma avaliação antiga feita muito por cima, sem considerar o número populacional ou os impactos da atividade humana. Quando fizemos esse levantamento com dados mais acurados, veio o alerta: é uma espécie à beira da extinção”, relata.
Além de confirmar o risco, o estudo também destaca a importância da qualidade dos dados e da taxonomia precisa. Segundo Fernandes, registros mal identificados em bases internacionais indicavam, de forma equivocada, que a planta ocorria na Argentina e no Chile, o que mascarava sua verdadeira distribuição geográfica. “Se a gente avaliasse a espécie com base nesses registros errados, ela pareceria amplamente distribuída e, portanto, não ameaçada. Mas quando revisitamos as populações e conferimos a identificação correta, vimos que ela praticamente só existe aqui”, afirma. Populações antigas de municípios como Tapes e Tramandaí, por exemplo, já estão extintas, embora ainda apareçam nos bancos de dados.
Estratégias para a preservação
Entre as principais propostas do estudo, estão a criação de uma unidade de conservação no Pontal da Barra do Laranjal e o uso paisagístico da espécie em áreas urbanas, como praças e jardins, aproveitando o seu potencial ornamental e o apelo para a educação ambiental. Outras ações sugeridas incluem o fortalecimento de bancos de germoplasma, programas de monitoramento populacional e a formação de novos taxonomistas, profissionais essenciais para a identificação correta das espécies.
Para Fernandes, preservar a Grindelia atlantica é uma missão que vai além da botânica. “Não é só uma margarida. É uma espécie que evoluiu por milhões de anos e que só existe aqui. Ou ela vai virar um exemplo de conservação bem-sucedida, uma planta linda que pode enfeitar o Laranjal inteiro, ou vai ser mais uma espécie perdida para sempre”.