O experiente radialista Fabiano Conte, à frente da coordenação da rádio Pelotense 99.5 FM, me chamou de canto alguns dias antes da inauguração da emissora e fez uma premonição:
– Jarbas, tu vais trocar tua paixão pelo impresso com o rádio.
Eu dei risada e permaneci convicto da minha sólida relação com o jornalismo feito em uma das plataformas mais tradicionais que existem e, ainda hoje, em plena era digital, atraente a quem não abre mão de folhear, nas manhãs de café, as edições do dia.
As transmissões da Pelotense tiveram início em 7 de julho, aniversário de Pelotas, data também de estreia do Debate Regional, programa que conduzo de segunda a sexta-feira, das 9h às 11h. O nervosismo inicial de quem nunca havia trabalhado com um microfone está passando, embora o aprendizado ainda seja um longo caminho que preciso percorrer para agregar ao meu currículo um parágrafo destinado à função de radialista. Estou anos-luz de distância dos verdadeiros nomes do dial, professores desse meio único.
Mas aquela frase do Conte permaneceu na minha cabeça: “vais trocar tua paixão”. Quase três semanas após a estreia, com uma desafiadora externa de três horas na abertura oficial da 31ª Fenadoce e 15 programas concluídos, admito que começo a olhar mais atentamente para o rádio, sob a desconfiança de minha eterna paixão profissional desde a época em que deixei os bancos universitários para ingressar no jornalismo. O risco de traição é grande, e luto para permanecer firme. Já não consigo esconder o flerte diário.
Brincadeiras à parte, o rádio é viciante. Abrir a possibilidade de discutir ao vivo temas importantes à sociedade e saber que, naquele momento, estou sendo ouvido por milhares de pessoas em casa, no trabalho, no trânsito, e permeando o livre pensar, é grandioso. E observar a continuidade desse fio nas ruas, onde os ouvintes me procuram e dizem “te ouvi”, mesmo para discordar ou dar outro ponto de vista, torna-se ainda mais surpreendente. O impresso também tem esse poder, mas a relação com o leitor acontece de outra forma, em outro nível.
Sempre escutei dos mestres que o verdadeiro jornalismo era feito na retenção e imortalidade do papel, em que o âmago das pautas acontece e conseguimos passar a mensagem mais próxima do mantra a ser perseguido por todo comunicador: ajudar a construir comunidades melhores. Eles não estavam errados, apesar da injustiça que se comete ao tentar criar um ranking. Todas as plataformas são importantes, cada uma dentro de suas características e do momento para se passar a mensagem.
Aqui no A Hora do Sul colocamos à disposição da cidade e da Zona Sul um tripé estratégico para contribuir com a integração e o desenvolvimento regional. A rádio Pelotense antecipa, o digital potencializa e o impresso aprofunda. Nessa complementaridade, saímos vitoriosos no objetivo.
E eu, um repórter de papel que iniciei lá atrás, troquei a máquina de escrever pelo computador e vi o nascimento da internet mudar a forma como nos relacionamos, continuo usando as armas que descobri ao longo de minha vida profissional. Se você chegou até aqui com a leitura, tenha a certeza que foi porque o título deste artigo te induziu a acreditar em outro assunto. Usei uma isca na manchete, como se faz nos jornais.
Já o rádio, só o tempo dirá se vou trair ou seguirei fiel a essa paixão em 26×35 (o tamanho de uma página).