Responsáveis pelo alimento que chega à mesa dos brasileiros, os colonos têm o dia 25 de julho dedicado às homenagens, celebrações e reflexões sobre o atual momento da economia brasileira e internacional, impactada por políticas tarifárias que afetam tanto grandes produtores rurais quanto agricultores familiares.
Desde o início das comemorações, há 101 anos, são muitas as conquistas de quem trabalha no campo e lida com a terra. O dia também é dedicado aos motoristas que têm em São Cristóvão, o santo protetor dos viajantes.
A valorização do colono começa com o espaço cada vez maior à agricultura familiar em grandes eventos. Um exemplo é a movimentação nos 70 estandes da 31ª Fenadoce, que expõem os mais variados produtos e, depois do doce, são os preferidos da feira. A expectativa é superar os R$ 2 milhões em negócios, montante atingido na edição anterior.
Quem está expondo garante: “Está muito bom e é uma cadeia que fortalece a todos”, diz a produtora Maria Elena Nieves, do João de Barro Doces e Conservas Artesanais. Ela e o marido, David Armendaris, mantêm uma agroindústria há dez anos, em Morro Redondo. As parcerias viabilizam a participação em feiras e também ajudam os vizinhos que fornecem leite e frutas.
“Contamos com o apoio de entidades como Emater, Sindicato Rural, Sebrae, entre outras, para termos um produto de qualidade, colocar preço e expandir”, afirma. Ela já conseguiu certificação para a produção de alimentos de origem animal e vegetal para comercialização no Estado por meio de consórcio, e agora busca o Selo Arte para vender em todo o Brasil.
Na opinião de Maria Elena, o agricultor ainda não é valorizado. Ela começou com uma pequena leitaria, mas não conseguiu manter o negócio. Com a aquisição de matéria-prima, mantém a agroindústria, tendo o doce de leite como carro-chefe, mas lamenta que muitas pessoas estejam saindo do campo em busca de outras áreas. “As pessoas da cidade não vivem sem o colono. A agricultura familiar precisa de mais apoio.”
A afirmação se consolida com o movimento da Feira da Agricultura Familiar, que até domingo, dia 20, já havia contabilizado R$ 490 mil em volume de negócios. O espaço é organizado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com apoio do governo do Estado, Emater/RS, Fetag-RS e CDL Pelotas.

Empresas locais estão no evento (Foto: Jô Folha)
Representatividade
O presidente da Federação dos Trabalhadores Assalariados Rurais (Fetar) e vice-prefeito de Arroio Grande, João Cezar Larrosa, conhece bem essa realidade, tanto por experiência própria quanto por sua atuação à frente de uma entidade que apoia a classe.
“A agricultura, nos últimos dez anos, teve um crescimento fantástico em produção e conquista de espaços de comercialização. Se não fossem as intervenções climáticas, que têm sido fator predominante no ciclo produtivo, estaríamos em um cenário muito mais favorável”, avalia.
Para Larrosa, a agricultura familiar produz muito e com qualidade, garantindo emprego e renda no Rio Grande do Sul e na região. “Mesmo com tudo isso, não podemos ignorar que os nossos colonos ainda têm entre suas demandas uma regulamentação da energia elétrica que proporcione mais segurança na produção; acessos em boas condições às suas propriedades e, principalmente, a desburocratização para a comercialização de seus produtos artesanais”, enfatiza.
Já o presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, considera o agricultor um guerreiro. “Enfrentamos mudanças climáticas, alta nos custos dos insumos e governos que não entendem a necessidade de prorrogar empréstimos”, afirma.
Segundo ele, o trabalhador do campo é privilegiado por morar em um lugar com clima agradável, no interior, em meio à natureza, e com suas próprias mãos tirar o sustento para si, sua família e tantos outros. “Temos muitas dificuldades, como o endividamento, que precisam ser resolvido, e legislações como o Proagro, que ficaram muito ruins. Mas o agricultor é aquele que perde tudo em um ano, e no seguinte faz um empréstimo, coloca a semente na terra, cuida do animal, para que tudo vire alimento e chegue à mesa de todos nós.”
Uma festa dupla
O dia 25 de julho também celebra o Dia do Motorista e, assim como o Dia do Colono, será feriado em várias cidades gaúchas. A data dedicada aos condutores está ligada à religiosidade: o Dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas e viajantes, também é celebrado nesta data.
Para os fiéis, especialmente aqueles que trabalham no transporte, o dia é marcado por bênçãos em paróquias dedicadas ao santo. Além de missas, carreatas são tradicionais aos domingos pela manhã, como ocorre há anos em Pelotas.