Não há hoje absurdo maior que o aumento do número de deputados federais, medida aprovada pelo Congresso e pronta para ser sancionada, mesmo diante da rejeição expressiva da sociedade ao ato consumado pela maioria dos parlamentares. O Brasil não precisa de mais 18 políticos que, juntos, custarão aos contribuintes alguns milhões por ano. Afinal, o que poderão fazer 531 deputados que os atuais 513 já não conseguem — ou, como em muitos casos, demonstram ser incapazes de fazer? Nunca se tratou de quantidade, mas de qualidade e conteúdo político.
E o efeito cascata dessa decisão tomada em Brasília já se anuncia. As Assembleias Legislativas devem seguir o mesmo caminho e poderão inflar também o número de cadeiras. O país poderá passar de 1.059 para 1.089 deputados estaduais. Serão beneficiados os estados do Amazonas, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Pará, Santa Catarina, Ceará, Goiás, Minas Gerais e Paraná. Os três primeiros foram os mais contemplados, com o acréscimo de seis representantes cada. No total, em apenas quatro anos, essas novas vagas federais e estaduais custarão R$ 380 milhões.
Políticos custam caro ao povo. Além dos salários, contam com estruturas de gabinete e diversas verbas vinculadas ao exercício do mandato. Só nos primeiros sete meses de 2025, a Bancada Gaúcha Federal utilizou R$ 7,5 milhões da cota para o Exercício da Atividade Parlamentar, valor destinado a cobrir despesas como aluguel de escritórios regionais, passagens aéreas, alimentação, aluguel de veículos, combustíveis, entre outros.
O presidente Lula (PT) vetou o aumento e jogou a responsabilidade no colo do Congresso, em um típico “eles que arquem com as consequências”. A reação foi imediata: parlamentares ameaçam retaliar, quase em tom de chantagem. Projetos de interesse do governo, como o fim da isenção de Imposto de Renda para Letras de Crédito Agrícola (LCAs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) — bandeiras do ministro da Fazenda, Fernando Haddad — não devem avançar.
Vale lembrar: a iniciativa de ampliar o número de cadeiras surgiu após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a redistribuição das vagas de acordo com as mudanças demográficas dos estados. Para evitar perdas a algumas unidades da Federação, a Câmara preferiu o caminho mais caro, fechou os olhos e aumentou o total de parlamentares.
Nem mesmo o repúdio da sociedade foi suficiente para mudar a postura das bancadas que ajudaram a aprovar o projeto. A última pesquisa Quaest, divulgada na quarta-feira passada, mostrou que 85% dos brasileiros são contra a ampliação do número de deputados federais.
Nesse jogo de empurra e disputa por popularidade, Lula saiu com algum ganho ao confrontar a decisão, enquanto o Congresso amarga uma crescente descrença. No fim, quem pagará a conta — a partir de 2027 — será a população.