A Usina do Trabalho do Ator encena em Pelotas Zaze-Zaze: uma festa para Vavó. O espetáculo de rua chega ao município por meio projeto de circulação, que une os grupos UTA e Pretagô, de Porto Alegre, que têm muito em comum: ambos aniversariam em maio e desenvolvem dramaturgias com temáticas negras. A apresentação ocorre hoje às 16h, no Largo do Bola, em frente ao Instituto de Ciência Humanas da Universidade Federal de Pelotas, na rua Alberto Rosa, 117. Em caso de chuva, a apresentação será transferida para o interior do prédio dos cursos de Teatro e Dança. A atração é gratuita.
Este ano o Pretagô completa 11 anos e o UTA chega aos 33 anos. As datas celebradas no mesmo mês motivaram a união das entidades neste projeto de circulação. Além de levar os espetáculos Zaze-Zaze e Mesa farta, do Pretagô, a diferentes públicos das cidades de Canoas, Pelotas, Porto Alegre e Santa Maria, os artistas têm promovido oficinas.
Em Pelotas, atores dos dois grupos lideraram o workshop ontem, na Sala Carmen Biasoli do Centro de Artes da UFPel. A turnê é realizada com recursos do edital 26/2024 – Sedac PNAB RS com financiamento Pró-Cultura do governo do Estado do RS e Ministério da Cultura do Governo Federal.
Zaze-zaze: uma festa para Vavó estreou em 2023, após ser aprovado no edital Fac-RS das Artes de Espetáculo. Na época foram realizadas dez apresentações em bairros periféricos e áreas centrais da cidade de Porto Alegre, e, além disso, oportunizou workshops para grupos de teatro periféricos.
Em 2024, foi um dos espetáculos convidados a participar do Festival Porto Verão Alegre e foi selecionado como uma das montagens locais do 18º Palco Giratório. Mesa Farta, do Pretagô, retrata o cotidiano da vida de pessoas negras. Porém, esta peça não será apresentada em Pelotas.
Diferentes estéticas
Os dois espetáculos abordam temáticas negras em suas concepções dramatúrgicas de modos distintos. “Acreditamos que tal encontro justifica-se tanto pela troca artística entre os grupos na elaboração da oficina a ser ministrada em conjunto, quanto pela oportunidade do público de assistir aos espetáculos e entrar em contato com estéticas diversificadas, ainda que o foco de discussão encontre pontos de contato no que se refere à temática negra”, afirma Thiago Pirajira, professor da Universidade Federal de Pelotas e artista da UTA e Pretagô.
Serão três apresentações de cada grupo e quatro oficinas ministradas pelos dois grupos em conjunto. As oficinas têm como público alvo artistas, professores e estudantes de artes cênicas, visto que três das cidades escolhidas para a circulação, Santa Maria, Pelotas e Porto Alegre, têm cursos de graduação que formam tanto professores de artes cênicas quanto artistas da cena. “Embora exista a previsão de ensino da história e da cultura negra nos currículos escolares, ainda há uma grande lacuna na formação de artistas e professores nas universidades”, comenta Pirajira.
História de vida
O espetáculo de rua Zaze-Zaze: uma festa para Vavó é inspirado no texto dramático Zaze-Zaze, de Hermes Mancilha, comemorou os 30 anos do UTA, um dos mais importantes grupos teatrais do sul do Brasil, um dramaturgo importante na constituição do teatro negro gaúcho. Mancilha foi uma personalidade do teatro na cena sulista. Autor, ator, iluminador, dramaturgo, diretor e professor de teatro, foi coautor de Bailei na curva. Muitos de seus textos não foram ainda publicados, quase 30 anos depois de sua morte e este espetáculo dá visibilidade ao legado deste escritor.
A montagem conta e canta a história da vida de Vavó, uma mulher negra e pobre, símbolo da resistência negra brasileira. Em cena figuram seus percalços e conquistas até seu final. A linha do tempo de sua vida, suas memórias, as conversas com seu companheiro, as cenas ritualísticas e recordações expõem a condição de vida da mulher negra no Brasil. O espetáculo explora sua caminhada, os sonhos, as relações familiares, oscilando entre cenas rituais, líricas e cômicas.