Em entrevista ao programa Debate Regional da Rádio Pelotense nesta semana, a chefe da agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de Pelotas, Tatiane Gautério, falou sobre a diminuição populacional da Zona Sul do Estado, na comparação pelo Censo 2010 e o de 2022. Entre os fatores, ela elenca a queda de nascimentos e a migração do campo para a área urbana como determinantes para a ocorrência desse fenômeno.
Diferente das demais regiões gaúchas, a Sul registrou queda de 2,27% no número de habitantes. No Censo 2010 eram 846.626 habitantes, já o Censo 2020 apontou 827.962, uma queda de 18.664 moradores. Dos 32 municípios que compõem a Zona Sul, 26 tiveram queda populacional, de acordo com o levantamento do IBGE.
De acordo com Tatiane, a tendência nacional de que as mulheres tenham cada vez menos filhos é seguida na região. Isso se deve, principalmente, à melhora na saúde da mulher e a possibilidade dela escolher ter menos filhos, dadas as condições econômicas e mudanças na dinâmica familiar. Em Pelotas, as famílias estão diminuindo, com média de 2,8 pessoas por domicílio.
Com relação à evasão da zona rural, a chefe da agência do IBGE em Pelotas afirma que essa condição afeta muito mais os jovens em idade acadêmica e no início de suas vidas adultas. “Os filhos de agricultores não estão ficando no campo e isso faz com que a população nessas cidades mais rurais vá diminuindo”, disse.
Alternativa
Em Canguçu, cidade da região com 70% da população moradora da zona rural, uma das preocupações é a evasão de jovens para os centros urbanos e o consequente envelhecimento populacional, com sérios riscos para a queda de produção e qualidade. Também vem deste município uma alternativa para melhorar os índices de permanência no campo.
Formada a partir das discussões do Fórum da Agricultura Familiar da Região Sul em 2013, a Escola Família Agrícola (Efasul) oferta ensino médio integrado ao curso técnico em Agroecologia. Desde então, 70 profissionais foram formados e seguem contribuindo para o desenvolvimento e qualificação do setor.
Atuando com a chamada “pedagogia da alternância”, a escola seleciona os estudantes, de toda a região Sul, a partir do seu vínculo com o meio rural. A partir da permanência dos alunos uma semana no educandário e outra aplicando os conhecimentos em casa, a escola busca os incentivar a continuar auxiliando a agricultura familiar, base da maior parte dos estudantes.
Evasão menor nas Efa’s
A diretora da Efasul, Carla Rosane, destaca que a escola também enfrenta os problemas de evasão, mas defende que pelo trabalho de acolhimento e a proximidade dos conteúdos com a realidade, o índice de alunos que deixam de estudar ou vão para os centros urbanos é menor. “O nosso contexto propicia que o jovem permaneça estudando por ter um deslocamento facilitado, já que passam uma semana em cada espaço, e o vínculo que conseguimos estabelecer faz com que ele se identifique com a escola”, diz.
Carla também menciona que, durante o ensino fundamental, os estudantes do campo tem mais possibilidades de estudarem perto de casa. No entanto, a maioria das escolas de ensino médio são nos centros urbanos, o que pode levar o jovem a parar de estudar ou precisar mudar-se para evitar maiores gastos com deslocamento, além de ser inserido em uma realidade diferente da que estava acostumado. “A educação convencional é pensada a partir de uma matriz urbana, o que distancia cada vez mais este jovem”, afirma a diretora.
A escola é comunitária, sem vínculo com Município ou Estado, e também não é particular por não ser cobrada mensalidade. A Efasul é mantida através de uma associação formada pelos familiares dos alunos.