O frio extremo tem preocupado os agentes de saúde pelo número de doenças respiratórias que acarretam internações e até óbitos, sendo que só entre Pelotas e Rio Grande já somam 21. No Estado, são mais de 850 e todo o cuidado é pouco nesse período de frio intenso. A pneumologista Carolina Xavier Lemos, professora de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), reforça a importância da prevenção para evitar doenças respiratórias.
Com a chegada do inverno, devemos redobrar a atenção com a saúde. A combinação de ambientes fechados e baixas temperaturas favorece a circulação de alguns vírus, como gripe, resfriado e até mesmo a Covid-19. Conforme a médica pneumologista, o período exige atenção especial à imunidade.
“Além dos hábitos diários e de higiene, é importante que estejamos com o esquema vacinal completo. Vacinas como a da Influenza, por exemplo, já estão disponíveis para toda a população e evitam a propagação de alguns vírus no inverno, como a gripe e o resfriado”, ressalta Carolina.
A orientação da especialista acende o alerta para um dado preocupante que é a baixa procura pelo imunizante. Até o dia 3, segundo a Secretaria de Saúde de Pelotas (SMS), apenas 46,32% dos 70.250 idosos aptos a receberem a dose, estão com a carteira em dia. O percentual cai quando o alvo são as crianças. Apenas 6.504 foram vacinadas, ou seja, 32,80% dessa população.
“A baixa cobertura vacinal tem muitos fatores, incluindo mitos como o de que a vacina contra influenza causa quadros gripais. É importante entender que as vacinas têm como objetivo reduzir especialmente os quadros graves, com internação e até mesmo óbito”. A especialista enfatiza que a ‘vacina da gripe’ não tem capacidade de causar quadros gripais, e, em contraponto, protege bastante de desfechos graves associados à doença. “É importante manter o esquema vacinal em dia”.
Para a titular da SMS, secretária Angela Vitória, está sendo feito tudo para evitar a alta das internações por síndrome respiratória aguda grave, como vacinar e ampliar horários das unidades de saúde. “Sabemos que o que protege as doenças por síndrome respiratória aguda grave é a vacina. Nós temos um total de 90 mil pessoas de todos os grupos, mas precisamos avançar na vacinação, principalmente dos de maior risco, que são as crianças e os idosos”, admite. A secretária tem observado pessoas com máscaras, cuidando da lavagem das mãos ou do uso de álcool gel, o que significa uma tomada de consciência da necessidade de cuidado com as doenças respiratórias.
Além de estar imunizado, a população também pode adotar comportamentos preventivos. Confira alguns deles e tire suas dúvidas com a pneumologista Carolina.
Ambientes mais ventilados ou mais fechados?
Carolina afirma que, mesmo num dia frio, é importante que os ambientes estejam ventilados. Principalmente em ambientes pequenos e com grande quantidade de pessoas, como transporte coletivo, por exemplo, é importante que esteja, no mínimo, uma janela esteja aberta.
“Os ambientes fechados facilitam a circulação de vírus e bactérias, o que parcialmente explica a maior incidência de infecções respiratórias nos nossos meses de inverno. Mas é importante lembrar de se proteger do frio em ambientes externos”, pontuou a professora.
Ar-condicionado e umidificador: aliados ou vilões?
O cuidado com equipamentos e sistemas de refrigeração, aquecimento e umidificação do ar é sempre constante. Muitas pessoas utilizam ares-condicionados e umidificadores a todo instante. A docente avalia que ambos podem ser aliados, mas na dosagem certa.
“É importante que os filtros sejam higienizados constantemente”, ressaltou a médica em relação ao ar-condicionado. Já em relação aos umidificadores, Carolina explica que não é recomendado o uso por mais de duas horas por dia e a umidade deve-se manter entre 50-60%.
A Covid-19 ainda é uma grande ameaça?
Embora, atualmente, de acordo com a professora, o vírus da Covid-19 tenha tendência a casos menos graves da doença, é importante manter cautela. Os sintomas mais brandos, classifica a docente, são decorrentes da ampla cobertura vacinal.
Grupos prioritários, como idosos e pessoas com comorbidades, devem ter cuidado redobrado. É importante, entende a médica, que esteja atualizado o esquema vacinal em todas as pessoas. “As pessoas não vacinadas também apresentam taxas maiores de complicações, especialmente se pertencentes aos grupos prioritários”, avalia.
Fumantes e doenças respiratórias
O tabagismo é o fator isolado que mais predispõe a problemas respiratórios, independente da estação, avalia a médica.
“No inverno as defesas respiratórias se reduzem, e quando o tabagismo está associado temos maior risco de infecções e exacerbações de doenças pré-existentes”, explica a médica.
Quando procurar atendimento médico?
A professora explica que quando houver febre persistente (mais de 48 horas), falta de ar, aperto, chiado ou dor no peito, tosse com expectoração, dor para respirar, quando houver alterações de consciência é importante procurar atendimento com profissionais de saúde.
Em crianças e idosos, ressalta ela, também é importante a observação de sinais, como a dificuldade para se hidratar ou alimentar. Em caso de emergência, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) deve ser acionado gratuitamente pelo número 192.
Onde procurar atendimento
Para o diretor geral da UPA Areal, Nelson Soares, nos dias de frio muito intenso a busca por atendimento na UPA acaba sendo um pouco menor, pela demanda ser apenas por pacientes que precisam de um atendimento emergencial, que é a vocação da UPA.
As Unidades Básicas de Atendimento Imediato (Ubais) funcionam das 18h às 24h de segunda a sexta. E aos sábados e domingos das 12 às 24h. “Isso tem auxiliado a população”. Para casos gripais recomenda-se inicialmente a busca pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), no horário comercial.
Em caso de esforço respiratório moderado a intenso, dessaturação, dificuldade ventilatória ou outros sintomas mais graves, deve-se procurar a UPA.
Dada a alta demanda do Samu e de pacientes graves, explica Soares, a UPA tem priorizado o atendimento aos pacientes em risco de vida ou potencial agravamento.
Na página 4, confira o número de hospitalizações por Síndromes Respiratórias Aguda Grave (SRAG) por agente etiológico, internações em UTI e óbitos, com um diagnóstico da gripe no RS, em Pelotas e Rio Grande em 2025.