Ashish Singh, 38 anos, é indiano e vive em Pelotas há dez anos. Natural de Varanasi, cidade às margens do rio Ganges, com mais de três milhões de habitantes, Singh veio para o Brasil após se casar com uma moradora de Pelotas. Professor de inglês no município e de forma online, ele conta sobre os desafios para a adaptação à cultura local, gastronomia e língua.
Você já tinha estado no Brasil antes de conhecer Pelotas?
Não, eu nunca tinha viajado para o Brasil ou América do Sul antes.
Como é Varanasi?
Uma das cidades mais antigas do mundo, é um centro espiritual vital na Índia. Situada às margens do rio Ganges, atrai peregrinos e turistas globalmente. Conhecida pelos seus ghats, escadarias que levam à água, onde rituais religiosos são feitos diariamente. Templos antigos e ruelas estreitas pontilham a cidade, oferecendo uma imersão cultural profunda.
A atmosfera é mística, preenchida com cânticos, incenso e a energia da devoção. É um local de purificação e contemplação, essencial para a compreensão da espiritualidade hindu.
Como foram os primeiros meses morando em Pelotas? Quais os maiores desafios?
O maior desafio que enfrentei foi, sem dúvida, a questão alimentar e a barreira linguística. Sendo vegetariano, a busca por opções adequadas era constante e, muitas vezes, frustrante. A dificuldade era exponencialmente amplificada pelo fato de eu não dominar o português, tornando a comunicação em restaurantes e mercados uma verdadeira odisseia. Cada refeição se transformava num exercício de paciência e mímica, onde a compreensão mútua era um luxo.
O que te surpreendeu sobre a cultura e a cidade?
Eu realmente aprecio a atitude amigável e despreocupada do Brasil em geral. Há algo na maneira como as pessoas interagem aqui, um calor e uma leveza que me cativam. Mesmo morando em Pelotas, uma cidade que amo profundamente e que é, sem dúvida, a minha favorita, sinto-me muito bem conectado com o resto do mundo.
Apesar da distância geográfica, a tecnologia e a diversidade de pessoas que conheço me permitem ter uma visão ampla e global. Essa conexão com o mundo exterior, combinada com o charme e a atmosfera acolhedora de Pelotas, cria um equilíbrio perfeito na minha vida. É essa mistura de uma base sólida em minha cidade preferida e a facilidade de me conectar com diferentes culturas e ideias que torna minha experiência no Brasil tão rica e gratificante.
Qual foi o maior choque cultural?
Sinto falta de restaurantes indianos aqui. Fiquei um pouco triste ao perceber que quase não há restaurantes indianos no Rio Grande do Sul. É uma pena, pois a culinária indiana é tão rica e variada. Para mim a culinária é uma parte importante da cultura e uma forma de se sentir em casa. Além disso, em Pelotas, ainda é muito difícil encontrar opções vegetarianas nos restaurantes. Na Índia, especialmente em Varanasi, a comida vegetariana é abundante e deliciosa, então essa é uma diferença bastante notável.
Qual a sua parte preferida de morar aqui?
Estou realmente apreciando o clima de Pelotas em comparação com o da Índia. Em Varanasi, as temperaturas divergem drasticamente das que encontro aqui. Em Varanasi, estamos acostumados a um calor intenso e prolongado, com os meses de verão atingindo frequentemente patamares acima dos 40° C, acompanhados por uma umidade sufocante que torna a sensação térmica ainda mais elevada.
Já os invernos, embora mais amenos, ainda podem apresentar noites bastante frias. Essa amplitude térmica e a intensidade do calor em grande parte do ano são características marcantes do nosso clima tropical. Aqui em Pelotas, a realidade é outra.
Quanto tempo demorou para aprender português?
Posso afirmar que minha aprendizagem foi notavelmente rápida. Dediquei-me intensivamente, estudando cerca de seis a sete horas diariamente. Utilizei uma variedade de recursos, desde aplicativos de idiomas como o Duolingo até aulas particulares com professores. Essa imersão total e consistente me permitiu alcançar o nível intermediário em português em apenas seis meses.