A região Sul vive, há cerca de duas semanas, em estado de alerta para a possibilidade de novas enchentes com as cheias de rios no Norte do Estado e que, pelo curso da água, percorrem a Costa Doce e o litoral Sul em direção ao Oceano. Com o iminente aumento do nível da Lagoa dos Patos, os moradores das áreas ribeirinhas movimentam-se para proteger seus pertences e revivem a apreensão de um ano atrás.
Em Rio Grande, desde o dia 22 de abril de 2024, a comunidade da Ilha dos Marinheiros perdeu o livre acesso terrestre, após um dos pilares da ponte Wilson Mattos Branco ceder com a pressão da água durante o período de enchente. Desde então, a travessia se dá por uma balsa disponibilizada pela prefeitura, enquanto o processo de recuperação da estrutura é realizado. Ainda assim, o medo do isolamento e a dificuldade de acesso representam apreensão constante entre os moradores.
Ainda não há prazo para a conclusão das obras e liberação da ponte construída em 1998 e que, desde então, conectava os cerca de 1,5 mil moradores ao centro da cidade. Enquanto o serviço está sendo executado, os ilhéus se revezam entre a travessia pela balsa e os poucos momentos em que a ponte é aberta para trânsito de veículos leves e pedestres.
“Nós estamos cansados”
Ainda em processo de reestruturação das suas vidas, a possibilidade de uma nova enchente atingir a Ilha dos Marinheiros, mesmo que em proporções menores que do ano passado, assusta os moradores, que já começaram a procurar formas de proteger seus pertences. A pescadora artesanal Viviane Alves afirma que muitos habitantes escolheram ir embora de vez. “Gente que tinha casa aqui há 20, 30 anos e foi embora. Nós estamos cansados de lutar contra essas águas, passamos o dia em alerta e sem saber o que pode acontecer”, diz.
Viviane é sub-prefeita da localidade e, com isso, é a representante dos moradores junto ao poder público. Segundo ela, a maioria não conseguiu ter acesso ao Auxílio Reconstrução do governo federal. “Agora esses pedidos estão judicializados. Sem ponte, as pessoas estavam gastando demais para ir até o centro pedir [o auxílio] e deixaram de tentar”, afirma a pescadora.
Nova cheia
A Lagoa dos Patos atingiu o pico de 1,27 m (47 cm acima da cota de inundação) às 23h30min de sábado). Ainda na noite do domingo e durante a segunda-feira, os níveis mantiveram-se baixos na região de Rio Grande, mas na terça-feira já era observado uma nova cheia nas proximidades da Ilha dos Marinheiros.
“É quando a gente vê os arroios próximos bem cheios assim que o desespero bate, sabemos que a água vai chegar”, diz a pescadora, que mora há 25 anos na localidade e assiste com apreensão às mudanças climáticas dos últimos anos.
Edson e Fátima Fagundes, de 72 e 70 anos, eram moradores do centro de Rio Grande e decidiram comprar um terreno na Ilha dos Marinheiros para aproveitar com a família e descansar, mas os últimos acontecimentos fizeram os planos mudarem. “Na enchente passada perdemos muita coisa, foi triste ver tudo indo embora com a água”, diz Edson.
O casal retornou à localidade na tarde de terça para levantar alguns móveis e conferir se houve estragos com as últimas chuvas, mas lamentou a demora para a conclusão da obra na ponte. “Esse trajeto que nos cansa, fora os dias que não funciona pelo vento, então é melhor sair e não ficar à mercê dela [balsa]”, afirma o morador.
União entre moradores
Nos momentos difíceis, a comunidade se mantém unida. São diversos grupos em redes sociais que funcionam como forma de apoio e alerta sobre o funcionamento da balsa e as áreas de risco. “Foi algo que nos ajudou bastante durante a enchente do ano passado, alguns ficaram aqui cuidando da casa dos outros, pescadores nos barcos fazendo ronda, o pessoal é bem unido”, diz a sub-prefeita da Ilha.
Futuro
De acordo com a prefeitura de Rio Grande, as atuais condições climáticas podem atrasar o cronograma de recuperação da ponte Wilson Mattos Branco. Neste momento, estão sendo colocadas pedras rachão no entorno da estrutura que cedeu. Segundo a secretária Giovana Trindade, responsável pelo Gabinete de Programas e Projetos Especiais (GPPE), as equipes estão fazendo o possível para que haja o menor impacto possível no calendário.
Está previsto que a manta geotêxtil, para segurar o material que sustentará a ponte no fundo da Lagoa, seja colocada até o dia 29 de julho. Ainda não há prazo para o final das obras na ponte da Ilha dos Marinheiros.