O rádio na linha de frente da informação

Rádio Pelotense

O rádio na linha de frente da informação

Especialistas mostram como o meio sobrevive à era digital, informa em meio a crises e combate a desinformação sem perder sua essência local

Por

O rádio na linha de frente da informação
Estreia ocorre no dia 7 de julho. (Foto: Gabriel Leão)

O rádio segue exercendo um papel central na coesão social, na educação de base e na identidade comunitária, sobretudo em regiões com infraestrutura limitada. Em menos de uma semana, Pelotas volta a contar com Rádio Pelotense, a mais antiga do Estado, agora integrada à redação do A Hora do Sul. A reestreia ocorre no dia 7 de julho, aniversário da cidade.

Os professores Luiz Artur Ferraretto (UFRGS) e Ricardo Fiegenbaum (UFPel) analisam como esse meio tradicional se renova e mantém sua força junto ao público. Em locais onde faltam internet e acesso, o rádio cumpre função insubstituível. Para Ferraretto, trata-se de um meio barato que, mesmo em lugares isolados, garante à população conexão com a informação. “No dia a dia, independentemente do local onde a pessoa está, o rádio a acompanha com informação, música e entretenimento. Além de auxiliar na conexão, na educação, no aprendizado, inclusive, em termos de cidadania”.

Fiegenbaum lembra que, nos anos 1920, o rádio tinha o objetivo de oferecer educação formal a quem não podia frequentar a escola. “O rádio era para ser educativo no sentido escolar mesmo”. A partir dos anos 1930 até 1950, o rádio foi um veículo importante para integração e desenvolvimento nacional. Além disso, valoriza diferentes manifestações culturais brasileiras, especialmente da música e dramaturgia, com as radionovelas. “Quando surge a televisão, ele se transforma novamente para atender a necessidade de informação da sociedade e investe no radiojornalismo em tempo integral, principalmente em razão de sua capacidade de cobrir os acontecimentos no momento e no local onde ocorrem”. Hoje, o rádio local segue esse legado ao atender diretamente às necessidades das comunidades e valorizar suas manifestações culturais.

Relevância na era digital 

A adaptação às novas plataformas tem sido acelerada pela hibridização de formatos. Segundo Ferraretto, o grande avanço foi a hibridização do rádio com a TV e com a internet, que permite às emissoras pequenas exibirem conteúdo simultâneo em áudio e imagem. “Uso como exemplo as operações do grupo A Hora: a rádio A Hora com imagens aparece na internet como A Hora TV, mas podia simplesmente estar ali como A Hora ou como rádio, não faz diferença, para o público é A Hora, não é nem a rádio, nem a TV, é aquele veículo que está sempre junto desse público reforçando o companheirismo”.

Fiegenbaum reforça que, muito além da forma de transmissão, o rádio local tem seu valor na medida em que volta-se para atender as necessidades de informação das comunidades para as quais ele produz seu conteúdo.

Comunicação eficiente

O professor da UFPel coloca que o rádio é bastante dinâmico e às vezes o único veículo capaz de chegar rapidamente ao ouvinte com orientações sobre o que fazer em situações adversas. Em desastres naturais e pandemias, a agilidade do rádio se destaca. Ferraretto lembra apagões ocorridos na Europa e enchentes no Rio Grande do Sul em que o “radinho de pilha” era o único veículo que permanecia ativo. Ele observa que governos ainda não exploraram essa força nas políticas públicas de crise. “O rádio como meio, deveria ser considerado nas políticas públicas para o enfrentamento de crises, de fenômenos climáticos. Por chegar aos lugares mesmo sem energia elétrica e internet”.

O radialista Fabiano Conte, coordenador da Rádio Pelotense, reforça o papel importante que o rádio teve durante a enchente no Vale do Taquari em maio de 2024. Um dos relatos que marcou o radialista foi de um senhor que teve seu rádio de pilha como companheiro por dois dias e duas noites até ser resgatado. “Ele conseguiu se acalmar um pouco mais sabendo que tinham pessoas que estavam trabalhando para resgatá-lo, porque ele estava com a casa rodeada de água, ele não tinha mais contato com ninguém, mas pelo rádio ele conseguia ter essa informação”.

Combate à desinformação 

Para os professores, o maior desafio do jornalismo hoje é enfrentar a propagação de notícias falsas. Ferraretto atribui ao rádio o papel de companheiro virtual que precisa exercer “um mandato em nome do ouvinte”, com ética e qualidade técnica. Fiegenbaum concorda que a credibilidade das emissoras locais é um antídoto essencial contra boatos disseminados em redes sociais.

A reabertura da Rádio Pelotense, segundo Fiegenbaum, traz grandes expectativas. Ele espera que a nova programação seja uma referência de radiojornalismo local. “Que valorize a pluralidade de pontos de vista que nos caracteriza e seja intransigente na defesa da democracia”. Para ambos os professores, o futuro do rádio está na sua capacidade de proximidade e de incorporar novas tecnologias sem perder a essência de serviço à comunidade.

Acompanhe
nossas
redes sociais