Família com ordem de despejo teme ficar sem teto no Fragata
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Sexta-Feira20 de Setembro de 2024

Habitação

Família com ordem de despejo teme ficar sem teto no Fragata

Ocupando um terreno desapropriado, casal afirma que prefeitura não ofereceu condições para nova moradia

Por

Atualizado segunda-feira,
29 de Julho de 2024 às 14:38

Família com ordem de despejo teme ficar sem teto no Fragata
Casa da frente do terreno em que vive Maitê e família já começou a ser demolida (Foto: Jô Folha)

Um casal que vive na Vila Farroupilha com a filha de oito anos, e teve o terreno desapropriado pela prefeitura de Pelotas em 2012, teme ficar sem teto. O processo de retirada dos moradores iniciou-se com o projeto de requalificação do loteamento.

O problema é que no terreno em que hoje moram Maitê Francielle Moraes, dona de casa de 35 anos, e Leandro Evaristo Nunes, funcionário de um supermercado, 39, antes viviam duas famílias: a deles e a dos pais de Leandro. O projeto do governo municipal prevê a construção de uma avenida coletora que passa por ali.

Maitê conversou com a reportagem e contou que o caso se arrasta há anos, desde a época em que o sogro era vivo. “Minha guriazinha era bem bebezinha e o meu sogro falou: ‘a minha neta não vai ficar sem casa’, porque era para nos darem duas casinhas e nos deram uma só.”

O sogro de Maitê morreu no ano passado, e a sogra, Maria da Graça Evaristo Nunes, recebeu uma casa em abril também na Vila Farroupilha, um espaço insuficiente para abrigar a família do filho.

“Quando nos disseram que não teríamos uma casa, que nos prometeram antes, saímos de lá chorando. Olha a nossa situação. Como vou ficar na rua com minha filha? Eles disseram que vão nos despejar a qualquer custo. Como vão dizer isso para uma criança? Como que vão me tirar?”

Tentativa de reparação

A prefeitura cedeu um terreno ao casal e tijolos, como tentativa de reparação pelo despejo, que deve acontecer em 30 dias, segundo apurou a reportagem. Maitê, no entanto, alega que “é no meio do mato”, próximo ao Atacadão, e eles não têm condições de comprar o restante do material para construir, como materiais para a parte elétrica, de água e esgoto, e nem de contratar mão de obra.

“A gente queria uma casinha, que todo mundo ganhou”, lamenta a dona de casa. Um dos desejos de Leandro é permanecer perto da mãe, o que, segundo a família, não seria possível no terreno doado pela prefeitura.

Hoje, Maitê, Leandro e Ivana vivem em uma peça aos fundos do terreno considerado público pela prefeitura, sem banheiro e em meio à destruição, segundo a dona de casa, causada pela tragédia climática de maio, mas também pelo processo de demolição iniciado pelo poder municipal na casa da frente. A única fonte de renda da família é o salário-mínimo que Leandro recebe no supermercado.

Caso deve virar assunto de Justiça

Leandro procurou ajuda na Câmara de Vereadores, e recebeu o apoio de Miriam Marroni (PT) e Jurandir Silva (PSOL). Os parlamentares entraram com uma ação no Ministério Público para se ter uma solução que entregue à família uma casa pronta para morar. A denúncia ainda está em fase de análise pela promotoria.

A advogada Letícia Baron, assessora parlamentar de Jurandir, debruçou-se sobre o caso. Ela explica que em 2012 se iniciou o processo de desapropriação dos pais de Leandro, até chegar à solução de entregar uma casa na Vila Farroupilha à mãe, uma vez que o pai faleceu. À família de Leandro, no entanto, não se teve a mesma decisão

“Não foi aberto processo de desapropriação, [a prefeitura] somente exige que eles saiam da casa. Eles ofereceram um terreno e um banheiro, mas não dão condições deles construírem uma casa no local. E, caso ele não edifique no prazo de 30 dias, ele vai perder o terreno, qual seja, vai ficar sem nada”, relata a advogada.

Letícia reforça que a ação da prefeitura é ilegal, sem a abertura de um processo de desapropriação. “A secretaria afirma que foi feito o processo de desapropriação em relação à casa da mãe do Leandro, e que ele [Leandro] deveria sair com ela. Mas isso não é correto, porque são duas edificações diferentes, são dois núcleos familiares distintos. É justo que eles recebam a devida reparação nos termos da Lei”, afirma.

A família relata que funcionários da secretaria de Habitação estão lhes pressionando para que deixem o imóvel a qualquer custo, inclusive com ameaças de que retirariam a casa de Maria da Graça Nunes.

“Não é apropriado que servidores procurem a família e façam ameaças. Isso tem causado abalos psicológicos severos em todos, principalmente à filha do casal”, rebate Letícia.

Resposta

A prefeitura de Pelotas manifestou-se por meio de nota via assessoria de imprensa, assinada pela secretária de Habitação, Cláudia Leite, na qual negou qualquer tentativa de coação contra a família.

Segundo a secretaria, o acordo inicial com a família, quando Leandro ainda era adolescente, foi de uma casa de R$ 80 mil como indenização para a construção da avenida, e, ao fim, a mãe recebeu um imóvel de R$ 100 mil no loteamento Farroupilha.

“Cláudia ressalta que em nenhum momento foi acertado duas casas, uma para a mãe e outra para o filho, mas apenas uma unidade para o núcleo familiar. Mesmo assim, a Prefeitura disponibilizou um lote e material de construção, que até hoje não [foram] utilizados”, conclui a nota.

Questionada novamente sobre a doação do material de construção, a Prefeitura confirmou que o material cedido foram tijolos, não usados pelo casal.

Acompanhe
nossas
redes sociais