Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), Pelotas possui mais de 11,6 mil moradias situadas em áreas suscetíveis a inundações. Dentre elas, 3,8 mil estão em locais classificados com grau de risco muito alto para cheias. Ao todo são cerca de 46,7 mil pessoas vivendo em áreas vulneráveis a alagamentos.
O último mapeamento de áreas de risco para intempéries realizado pelo SGB, empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, em Pelotas foi em 2013. Em comparação a 2025, o número de locais em risco aumentou de oito para 11. Sendo cinco deles considerado de alto risco, uma condição que, há 12 anos, não era registrada em nenhum ponto da cidade.
Com isso, o número de domicílios situados em áreas de risco aumentou em 5.637 unidades e a população residente nessas áreas cresceu em 22.548 pessoas em relação a 2013. Conforme o Serviço Geológico do Brasil, as moradias estão localizadas sobre a planície de inundação do canal São Gonçalo e seus afluentes e por isso sofrem as consequências do transbordamento das águas destas drenagens.
Ineficiências de drenagem
O relatório do SGB também aponta o fato de grande parte do município não possuir sistema de drenagem pluvial e esgoto adequados como potencializador das inundações nas áreas de risco. As localidades vulneráveis as cheias após período de chuvas mais intensas estão distribuídas por várias regiões da cidade, incluindo, Centro, Porto, Laranjal, Três Vendas e Fragata.
Conforme o mapeamento, as áreas de risco estão diretamente relacionadas com o sistema de drenagem, isto é, falhas ou o mau funcionamento nas estações de bombeamento implicam no aumento da quantidade de pessoas inseridas nos setores de risco. A rua João Manoel, no Porto, é apontada pelo relatório como um dos logradouros com o maior número de moradias expostas a alagamentos.
Moradora da rua há 30 anos, Samanta Rosa relata que mesmo com uma bomba de drenagem do Sanep a poucos metros, em todos os episódios de chuva recorrente, a via fica completamente alagada. Em maio de 2024, o local foi um dos primeiros a serem evacuados devido à inundação.
“Tem uma bomba ali na esquina que puxa a água, mas ainda assim não dá vazão, porque estraga muito. Sempre foi assim [os alagamentos] eu não sei se eles poderiam abrir bueiros maiores, limpar melhor os bueiros, eu não sei dizer, mas todo ano é a mesma coisa”, diz.
Foco em mitigação
Conforme o secretário da Defesa Civil de Pelotas, Milton Martins, o levantamento do SGB servirá como uma orientação para a tomada de decisão e a criação de projetos de resiliência a eventos climáticos extremos. Martins detalha que atualmente a pasta realiza ações de contingência, como a intensificação da macrodrenagem em pontos de alagamento de vários bairros.
O secretário destaque que diante do déficit orçamentário deixado pelo governo de Paula Mascarenhas (PSDB), não é possível colocar em prática projetos mais robustos de resiliência e prevenção a enchentes. Dessa forma, ações estruturantes como recuperação e requalificação de estruturas de proteção contra as cheias dependem de repasses dos governos do Estado e Federal.
“Estamos em uma etapa de contingência e organizações de resposta, a gente pegou a prefeitura muito endividada, sem crédito na praça, não tem capacidade de investimento para resolver grandes projetos”, diz Martins.