Quem mora à beira da Lagoa dos Patos ou mesmo quem costuma passar o verão nas praias de São Lourenço do Sul se sente desolado pelo estrago causado pela enchente de maio. O avanço da água devastou a areia e as árvores que formam a bela paisagem natural da costa do município. Um levantamento feito pela Prefeitura estima que serão necessários cerca de R$ 2,9 milhões para recuperar a área atingida. Passados quase três meses do desastre climático, o tempo é de recuperação.
A aposentada Lilia Mary Martins Vieira, 67, revela que a enchente reabre cicatrizes que há 13 anos ela vem tentando fechar. Na grande enchente de 2011 a moradora da praia das Ondinas perdeu a mãe e a irmã, que não conseguiram sair de casa a tempo da casa na rua Tamandaré e morreram afogadas. No dia 3 de maio, quando a água da Lagoa dos Patos começou a subir e avançar pela areia, a aposentada temeu que o mesmo pudesse acontecer com ela. “Peguei o que pude, levantei os móveis que consegui e fui para casa da minha filha, onde permaneci por mais de um mês”, relatou.
De volta ao lar, ela retira diariamente a areia que invadiu a casa, juntamente com a água e sujeira que derrubaram o muro de vidro. “Fez muita onda e veio todo o junco. Fiquei com muito medo e desliguei a luz. Teve um dia que a água veio forte e invadiu as peças”, lembrou ela ao destacar que só da rua, a residência tem um metro e meio de altura. “A areia foi que protegeu a casa”. A aposentada confessa que está entediada e depressiva, pois o problema na coluna a impede de fazer a limpeza do pátio e o serviço particular é muito caro.
Recursos
De acordo com a titular da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente, Angélica Jardim, o setor técnico da pasta fez o levantamento de todos os estragos gerados pela inundação na praia, com exceção das Nereidas. “A orla foi dividida em trechos e, desde o dia 20 de junho, os orçamentos e relatórios têm sido cadastrados no sistema da Defesa Civil”, destacou. Para recuperar o trecho da praia vai ser preciso R$ 2.852.407,96.
Após análise do órgão do Estado, a Secretaria recebeu a lista de pendências dos primeiros dois trechos analisados e deve adequar os relatórios para inserir algumas informações exigidas pela Defesa Civil para melhor avaliar o pedido de recurso. “A partir desse relatório, estão sendo readequados todos os outros documentos e, consequentemente, orçamentos que já foram enviados para nova análise”.
O arroio São Lourenço também será alvo de ação e o governo municipal deve contratar uma empresa especializada para fazer o projeto de muros da gabião no trecho mais crítico de transbordo, que fica entre as ruas Jacob Rheingantz e Mas Stenzel (ambos perpendiculares à rua General Osório). Ainda dentro dos projetos de proteção da Prefeitura, está a aquisição de pedra rachão para executar o acesso à Alameda Mano Serpa, que dá acesso ao Camping Municipal.
A Secretaria de Planejamento, junto com a de Desenvolvimento Social e Habitação, planejam ainda incluir uma estrutura de contenção ao longo de toda a calçada e a ciclovia da praia, danificada com a cheia da Lagoa. A ideia é proteger a estrutura caso ocorra um novo desastre climático.
A medida poderá impedir que os 230 alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Armando das Neves não tenham que se deslocar para salas alternativas, como ocorreu durante a enchente quanto foram transferidos para peças no campus da Furg no município. Secretária do educandário, Janaína Moreira conta que a água que invadiu a escola causou mais estragos na Biblioteca.
Cenário
A prevenção é algo bastante desejado por quem usufrui da estrutura, principalmente em dias ensolarados. Mesmo com a pista tapada de areia, moradores ainda aproveitam a rua para praticar corrida, caminhada ou andar de bicicleta. A vendedora Evilda Rodrigues da Rocha, 60, mudou-se de Sapucaia do Sul para São Lourenço do Sul há um ano e já encarou a enchente. Na casa, que fica na rua Duque de Caxias com a avenida São Lourenço, a água atingiu 40 centímetros, danificando principalmente móveis. “Quando nos avisaram que a Lagoa estava subindo, levantei algumas coisas e sai. Nunca tinha visto algo igual. Meus parentes de São Leopoldo e Canoas perderam tudo”, lamentou.
Acompanhada da filha que mora em Santa Maria, ela mostrou os estragos causados pelo desastre natural, principalmente na avenida Getúlio Vargas entre as ruas Princesa Isabel e avenida São Lourenço, onde as raízes das árvores centenárias ficaram expostas e muros de casas foram derrubados. O cenário de destruição assusta, mas o local, que é ponto turístico da cidade, espera agora pela recuperação e assim, receber os turistas acostumados a visitar a praia.