Mais um episódio para a coleção de cenários desafiadores do trânsito pelotense: o trecho da avenida Duque de Caxias, em frente ao campus do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), é marcado por transtornos em horários de pico. O fluxo intenso de veículos e pessoas, somada ao mau planejamento viário, torna o local um ponto crítico de manobras improvisadas e risco constante de acidentes.
Para a motorista Raquel Campos, 41 anos, aluna de doutorado no IFSul, a rotina é marcada por dificuldades para estacionar. Ela frequenta a área à noite, quando assiste às aulas, mas já chega durante o final da tarde, no horário de pico. Ela relata que, às vezes, precisa dar até quatro voltas na quadra para encontrar uma vaga. Mesmo quando consegue sinalizar, acaba perdendo o espaço por conta da pressão de outros condutores.
Além da dificuldade em encontrar vagas, Raquel aponta outro problema: à noite, a iluminação é precária no entorno do IFSul. Ela menciona uma situação em que precisou deixar o veículo distante da entrada do prédio, e o carro teve a porta danificada em uma tentativa de arrombamento.
Outro local crítico é o ponto de retorno instalado em meio ao canteiro central da avenida. Por não ter as características de uma rótula tradicional, o espaço também é utilizado como estacionamento, o que atrapalha o trânsito em momentos de maior fluxo. “Fica apertado para fazer a volta, principalmente quando alguém da Duque vem entrando enquanto a gente tenta dobrar”, relata Raquel.
Leonor Valente, 48 anos, enfrenta os mesmos desafios diários do trânsito em frente ao IFSul, onde sua filha estuda. No entanto, para ela, o principal perigo é a faixa de pedestres em frente ao campus. “Eu sempre digo para minha filha: ‘quando tem ônibus parado, nem tenta atravessar, porque os motoristas não param na faixa’. Então ela espera na calçada até o trânsito passar”, relata.
Olhar técnico
A engenheira de Produção e Transportes, Raquel Holz, identifica deficiências importantes na infraestrutura viária do trecho. Ela cita um descompasso entre o uso intenso da via e a capacidade do espaço urbano de oferecer fluidez e segurança. Os principais obstáculos incluem:
- A ausência de áreas exclusivas para embarque e desembarque.
- A sinalização inadequada.
- E uma geometria viária que dificulta manobras e compromete a circulação.
Improvisações no trânsito
Os improvisos, como paradas em locais irregulares e manobras arriscadas, são fortes indicativos da falta de um planejamento urbano eficiente e integrado, segundo a especialista. “Quando a população precisa ‘se adaptar’ ao espaço de forma improvisada, o desenho urbano não responde às necessidades reais dos seus usuários”, atesta.
Planejamento ideal
A especialista diz que o planejamento ideal incluiria um estudo de tráfego detalhado, com contagens veiculares e de pedestres, análise dos horários de pico e avaliação dos deslocamentos gerados pela presença do IFSul e outras instituições próximas. Com base nisso, seria possível propor medidas:
- Reconfiguração geométrica da via
- Criação de bolsões para embarque e desembarque
- Reorganização de áreas de estacionamento
- Alteração de sentidos viários (se necessário)
- Instalação de dispositivos de controle, como semáforos inteligentes
- Incentivo à mobilidade sustentável: transporte coletivo, bicicletas e caminhada.
O que pode ser melhor no IFSul: rótula ou sinaleira?
A especialista esclarece que a escolha depende de uma série de fatores técnicos, como volume de tráfego nos diferentes acessos, presença de pedestres, espaço disponível e níveis de conflito. No caso do entorno do IFSul, se a rótula existente não comporta as manobras de forma segura, a substituição por controle semafórico pode ser a solução mais adequada, desde que fundamentada por estudo técnico.
Posição
A prefeitura de Pelotas diz que monitora o entorno do IFSul e que o fez intervenções na rua ao lado da instituição em maio para melhorar a infraestrutura.