Entre os 27.848 filiados nas 28 siglas com representações em Pelotas, há um número escondido: 56% dividem-se entre quem é analfabeto ou têm, no máximo, o Ensino Médio completo. E a maior fatia (31,18%) sequer completou o nono ano do fundamental. Os partidos políticos do município são a casa de 638 pessoas que apenas leem ou escrevem e outros 519 que não têm domínio sobre a escrita e a leitura, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Homens e mulheres com pouca instrução, identificados ideologicamente e atuantes para que suas legendas tenham representantes nas esferas municipal, estadual e federal.
Os dados comungam com a edição atual do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf). A pesquisa apontou que o total de analfabetos funcionais no Brasil é o mesmo desde 2018. No país, 29% da população entre 15 e 64 anos vive sem ter absorvido o básico de leitura e escrita.
Mas, afinal, política e escolaridade precisam andar de mãos dadas? A resposta é sim. Quanto maior o nível de conhecimento e compreensão racional do mundo – o que se alcança através do acesso à educação, à informação e à boa leitura -, mais qualidade se consegue imprimir nas decisões de temas fundamentais à sociedade.
E como em muitas situações, a teoria nem sempre é a representação mais fiel da prática. Veja o exemplo do Congresso Nacional. Apesar de a maioria eleita em 2022 ter o Ensino Superior completo, 82% dos brasileiros não confiam na Câmara e no Senado (fonte: AtlasIntel/CNN), palcos que servem para a demarcação de território nos campos extremos da direita e da esquerda, sem acréscimos substanciais ao país. Logo, qualidade política não é necessariamente uma garantia oferecida pelo diploma.
Pesquisas também indicam que quanto menor o nível de ensino do eleitor, maior é a chance dele faltar às eleições. Vivendo com renda baixíssima, desiludido, desinteressado e desinformado, ele prefere não comparecer às urnas. Suas prioridades são outras – sobreviver – e o que menos lhe interessa é ser agente do processo responsável por eleger representantes.
A questão dos feudos partidários vai além da preocupação com o ensino qualificado nos quadros de pessoal. Outras pontas seguem soltas. O Ministério Público Eleitoral enviou ofício às presidências nacionais de todas as siglas para que se cumpram as leis e políticas afirmativas voltadas à maior participação de mulheres e pessoas negras. Homens brancos são aqueles que dominam e mandam nos diretórios. Comissões de heteroidentificação terão que aparecer e ficar responsáveis por analisar as características dos candidatos no registro das candidaturas.
Pelotas é um exemplo do quanto essa informação é falha. No município, não se sabe a cor ou a raça de 97,10% dos quase 28 mil filiados. Entre os apenas 2,9% autodeclarados, 77% são brancos e são 12% pretos.
A política brasileira é um ambiente que flerta com a discriminação. Nela, pessoas com baixa escolaridade servem de ferramenta para poucos conquistarem e se manterem em níveis de poder; mulheres precisam lutar para conseguir o mínimo de espaço e voz, e negros ainda são tratados como cotistas. Alguns podem até discordar: “No meu partido isso não acontece”. O resultado das eleições no ano passado mostra o contrário: o país elegeu para as Câmaras de Vereadores 81,76% de candidatos homens. Ah, e qual a cor da maioria deles? Uma dica: começa com B, de Brasil.