Empreendedora e influenciadora digital, ninguém imagina que a venezuelana Gioconda Elvira Alfaro Infante, 31, líder do World Creativity Day 2025 em Pelotas, poderia ser barrada em um curso de formação profissional. Mas a falta de validação do histórico escolar fechou portas do que poderia lhe garantir qualificação profissional para mais oportunidades no mercado pelotense. A solução para quem está do outro lado do balcão é simples: procurar a embaixada da Venezuela no Brasil e carimbar o documento. Mas para refugiados de um país mergulhado em uma crise socioeconômica e humanitária, a alternativa é totalmente inviável.
No histórico de Gioconda, não só as disciplinas curriculares, mas uma história da vida de quem decidiu, da noite para o dia, sair de Barcelona, capital do Estado de Anzoátegui, mudar de país, de língua, mas nunca de identidade. A influenciadora não se vitimiza, apenas expressa sua frustração. “A situação no meu país não é fácil. Uma coisa é o que se vê, a outra é a realidade”, desabafa. Com custo alto e dolarizado, ela não tem como contar com a mãe que enfrenta problemas de saúde, e do irmão que cuida da familiar. Então, a venezuelana chora.
Sua chegada, em 2018, não foi simples, mas contou com amigos e viu um país repleto de oportunidades. Em Pelotas, colocou seu empreendimento em prática e quando tudo parecia bem, a enchente a fez sair de casa e perder clientes e parcerias. Hoje casada, conta com o parceiro para atingir seus objetivos, sempre na área de comunicação e empreendedorismo.
Dificuldade logística
Ela confessa que adoraria voltar a seu país para resolver questões burocráticas, mas as condições financeiras não a permitem. “A prefeitura do Rio de Janeiro atendeu muitos venezuelanos em um projeto de validação dos diplomas. Por que os outros estados não adotam as mesmas ações?”. Frustrada, diz que talvez perca a oportunidade para atuar no setor turístico, com a vantagem de ter o espanhol fluente. “Trabalhar como guia turística se encaixa perfeitamente com o que eu sou”, considera.
Na trilha que a empreendedora escolheu seguir, há vários cursos, pois a vontade de aprender e vencer é maior que a burocracia do país. “Eu tenho Ensino Médio, mas imagino quem tem bacharelado e esbarra com a burocracia da documentação para exercer sua profissão. Pois ‘ir ali na Venezuela’ resolver a situação leva meses. E o que eu faço nesse período? Passo fome”, desabafa.
Onde buscar ajuda?
A UCPel oferece a Clínica de Atendimento Jurídico a Imigrantes e Refugiados (Cajir), como objetivo fornecer acompanhamento jurídico para regularização migratória de quem está em situação de vulnerabilidade social. Os atendimentos são feitos por agendamento diretamente pelo Whatsapp do Serviço de Assistência Jurídica da UCPel (53) 98147-1619 ou telefone (53) 2128-8071.
A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tem a Clínica Intermigra, com o principal objetivo dar orientação jurídica a estudantes internacionais que estão em Pelotas e Migrantes em geral. O agendamento é feito pelo e-mail [email protected].
A coordenadora dos dois projetos, Anelize Corrêa, explica que o trabalho vai desde o auxílio ao encaminhamento da documentação para regularização migratória, como no preenchimento dos formulários e agendamentos. “Ambos os projetos têm representação no Comitê de Atenção aos Migrantes, Refugiados e Apátridas de Pelotas. Através do comitê temos conseguido solidificar parcerias que nos permitiu construir uma rede de apoio aos migrantes e refugiados”, conta. Atualmente Pelotas tem o selo Migracidades e Integra a Rede de Cidades Acolhedoras.