Obesidade é maior no início da adolescência entre os pelotenses

Coorte 2004

Obesidade é maior no início da adolescência entre os pelotenses

Pesquisa com jovens nascidos em 2004 mostra inversão de cenários conforme o crescimento

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Obesidade é maior no início da adolescência entre os pelotenses
Aumento no tempo de tela e diminuição nas atividades físicas contribuem para a obesidade na adolescência. (Foto: Divulgação)

O Ministério da Saúde estima que metade da população brasileira urbana tenha sobrepeso ou obesidade. No Rio Grande do Sul, segundo um novo levantamento da Secretaria da Saúde (SES), 55% da população adulta está acima do peso. Entre os adolescentes este percentual cai para 22%, mas ainda assim é preocupante.

Em Pelotas, a situação se repete. Segundo dados do estudo Coorte, que contém todos os dados de saúde e desenvolvimento das crianças nascidas no município em 2004, o índice mais preocupante relacionado à obesidade está no começo da adolescência, por volta dos 11 anos. Além disso, até os 15 anos, a obesidade foi maior entre os meninos, mas aos 18 anos é observada uma inversão, com maior obesidade entre as meninas.

A nutricionista e pesquisadora da Coorte 2004, Isabel Bierhals, afirma que diversos fatores, incluindo biológicos, comportamentais e ambientais, explicam estes números. Segundo ela, alterações hormonais podem aumentar o apetite e favorecer o acúmulo de gordura corporal, especialmente se não houver um gasto energético proporcional. Também é possível devido a redução da atividade física, maior autonomia alimentar – que pode levar a escolhas menos saudáveis -, e fatores psicológicos. “Muitos adolescentes passam a ter uma vida mais sedentária, seja por aumento do tempo em frente a telas, seja pela diminuição de brincadeiras e esportes, comuns na infância. A adolescência costuma vir acompanhada do sono insuficiente ou irregular, e a alimentação emocional por questões que envolvem estresse, ansiedade e autoestima baixa”, analisa Isabel.

Quanto à inversão na métrica aos 18 anos, com mais meninas obesas, Isabel relaciona com um conjunto de fatores como: processos hormonais naturais, entrada na vida adulta e a influência da pressão estética. “Isso pode gerar rotinas mais desorganizadas, com menos tempo para atividade física e alimentação adequada. Além disso, as meninas passam a se preocupar mais com o corpo na adolescência tardia, porém, essa preocupação nem sempre se traduz em hábitos saudáveis, podendo levar a comportamentos alimentares desordenados (como dietas restritivas seguidas de compulsão alimentar) ou sedentarismo por vergonha de praticar atividades físicas em público”, afirma a pesquisadora.

Obesidade aumenta o risco de câncer

O sobrepeso é considerado um dos principais fatores de risco para o surgimento de câncer. Dados recentes do estudo Global Burden of Disease (Estudo da Carga Global de Doença, em português) apontam que, em 2021, o acúmulo de gordura corporal elevado foi responsável por 12 mil mortes relacionadas ao câncer no Brasil, com mais de mil óbitos somente no Rio Grande do Sul.

Os hábitos alimentares não saudáveis são responsáveis por aproximadamente 4% dos casos de câncer no Brasil, com destaque para câncer de mama, colorretal e próstata.

A obesidade é considerada uma doença crônica pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e está associada ao aumento no risco de desenvolver doenças cardiovasculares, musculares, ósseas, além de diabetes.

Papel dos pais

A nutricionista Julia Hepp reforça o papel importante que os pais e responsáveis têm na construção dos hábitos alimentares dos jovens, onde o consumo de ultraprocessados é por vezes rotineiro nas famílias brasileiras. “Nas rotinas corridas é mais rápido, em outras [os industrializados] são encarados como mimos. Na adolescência ainda são os pais que fazem compras, que determinam o que vai entrar e o que não vai dentro de casa, então precisam entender seus papéis”, diz.

Neste sentido, os pais também devem garantir o apoio ao adolescente na busca por uma rotina mais saudável. “Contribuir para que o cenário de dentro de casa seja favorável a esse combate [à obesidade], influenciar o adolescente a praticar atividade física e apoiar essa mudança através da colaboração de profissionais como nutricionista e psicólogo, principalmente.”

Programa Saúde na Escola

A Secretaria da Saúde (SMS) de Pelotas afirma estar atenta para os dados alarmantes da obesidade no município, em especial de crianças e adolescentes. O assessor técnico da Diretoria de Atenção Primária da SMS, Alexandre Moch, destaca a atuação do Programa Saúde na Escola (PSE) que, desde sua criação em 2007 pelo governo estadual, promove a saúde e a qualidade de vida dos estudantes com atividades que esclarecem temas relacionados à obesidade para alunos, pais e professores.

Coorte 2004

Realizado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas e pelo Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o estudo abrange dados da saúde infantil de todas as 4.231 crianças nascidas em Pelotas no ano de 2004, cujas mães residiam na zona urbana da cidade.

Ao longo dos 22 anos de acompanhamento, diversas ações foram implantadas em Pelotas com base nas pesquisas, como esforços para reduzir nascimentos prematuros e campanhas de incentivo à amamentação.

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