Norma que trata da saúde do trabalhador passa por alterações

Mudança

Norma que trata da saúde do trabalhador passa por alterações

A partir do dia 26 deste mês, serão inclusos fatores de risco psicossociais no gerenciamento de riscos ocupacionais

Por

Norma que trata da saúde do trabalhador passa por alterações
Pequenos cuidados com os colaboradores já podem fazer diferença no gerenciamento de riscos ocupacionais. (Foto: Jô Folha)

No mês do Trabalhador, quando as ações se voltam aos direitos trabalhistas, um tema precisa ser lembrado: a saúde física e mental desses colaboradores. Estima-se que só em 2024 foram registrados 472.328 afastamentos por problemas de saúde mental relacionados ao trabalho, o maior número dos últimos dez anos, segundo dados do Ministério da Previdência Social.

Muitos dos motivos podem estar relacionados com a resistência ao retorno ao trabalho presencial, somado aos traumas deixados pelo período de reclusão da maioria dos setores do mercado. As consequências levaram o governo federal a alterar – ainda em 2024 – algumas medidas na Norma Regulamentadora (N-1) que trata do gerenciamento de riscos ocupacionais. Entre as principais mudanças está a inclusão expressa dos fatores de risco psicossociais. A nova redação entra em vigor no dia 26 deste mês.

Em 2022, uma publicação da Organização Mundial da Saúde e Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontou que cerca de 15% dos adultos em idade ativa viviam com algum transtorno mental. Por isso, a importância de seguir as recomendações para enfrentar rotinas insalubres, como cargas de trabalho pesadas, comportamentos negativos e outros fatores que criam angústia no trabalho. Na ocasião, foi determinado, pela primeira vez, o treinamento de gerentes para capacitá-los na construção de ambientes de trabalho saudáveis. Nas mudanças que estão para entrar em vigor, acrescenta-se ainda a participação do trabalhador nas ações de gerenciamento de risco ocupacional.

Segundo especialistas, investir em iniciativas de prevenção de incidentes e enfermidades relacionadas ao trabalho é capaz de assegurar um ambiente laboral mais seguro e saudável. O coordenador do Curso Técnico da Escola Estilo e bombeiro civil Tainã Hebling, que trabalha na indústria extrativa como coordenador de segurança do trabalho e produção, explica que as ações de proteção da saúde laboral preservam a saúde do colaborador em nível psicológico, físico e social, e evitam desencadear ou agravar estresse no trabalho, esgotamento, Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) e depressão, entre outros efeitos.

A prevenção pode ser feita através de campanhas, canais de denúncias, respeito às Normas Regulamentares e a sua aplicação. “Entre as ações, a busca por auxílio a equipes multidisciplinares e multiprofissionais é muito importante”, salienta. Já a obrigatoriedade das empresas depende da estrutura da organização e da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e a realidade cultural em que a empresa está inserida. “Para uma empresa implementar deve seguir as diretrizes do Ministério do Trabalho e Emprego, através das NRs”, alerta.

É físico ou mental?

Até a pandemia, assuntos relacionados à saúde do empregado sempre estiveram mais voltados para questões de acidentes de trabalho ou Lesão por Esforço Repetido (LER), mas Hebling lembra que os aspectos e eventos têm impacto na saúde mental de forma coletiva ou individual, de acordo com a ocorrência e a sua gravidade. Por isso que a alteração da NR-1 abrange explicitamente os fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho, que devem ser considerados no gerenciamento de riscos ocupacionais, juntamente com os agentes físicos, químicos, biológicos e riscos de acidente e ergonômicos. A partir do dia 26 deste mês, será exigido ainda o levantamento preliminar que identifique situações em que é possível evitar ou eliminar perigos nos quais a organização deve adotar medidas de redução ou controle imediatamente.

Movimente-se bem para movimentar-se sempre

Desde que foi instituído, o tema saúde laboral tem chamado atenção. “Um grande avanço é a entrada em vigor da nova redação da NR-1 cuja nova redação tem como foco os riscos psicossociais relacionados ao trabalho.”  Para o especialista, a saúde mental é uma questão fundamental na área de saúde e segurança do trabalho. “As organizações precisam abordar aspectos relacionados com os riscos psicossociais relacionados ao trabalho, visando prevenir adoecimento em grande escala”, destaca.

Exemplos a serem seguidos

Os colaboradores da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), além de receberem toda a assistência para a saúde do trabalhador, contam com o olhar atento dos futuros profissionais do curso de Fisioterapia durante as ações de cuidados laborais. Os alunos têm na sua matriz curricular, desde 2002, a disciplina de Saúde do Trabalhador, voltado à prevenção e tratamento dos acometimentos patológicos oriundos do exercício ocupacional. “Na prática, o curso de Fisioterapia sempre atendeu em seus estágios supervisionados, os colaboradores tanto da Universidade quanto do Hospital Universitário São Francisco de Paula”, salienta o coordenador do Curso, professor Flaviano Moreira da Silva.

Responsável pela coordenação da Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do Idoso e delegado do Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) da 5ª Macro Região de Pelotas, Silva observou uma alta demanda no curso e criou o Programa de Extensão – Atenção Fisioterapêutica na Comunidade – que ampliou os atendimentos aos colaboradores, através de bolsistas extensionistas.

Dinâmica de assistência

A divulgação dos atendimentos ocorre de forma interna e a Católica presta atendimentos na Clínica de Fisioterapia no campus da saúde, quando a atenção fisioterapêutica exige o uso dos equipamentos mais específicos. No Campus I são realizadas ações de forma preventiva para alívio dos sintomas de tensões musculares iniciais, leves desconforto e dores mais leves, evitando assim o agravamento delas. A agenda de atendimento é organizada pela técnica em Segurança do Trabalho Patrícia Marchesan de Pinho e pela professora do curso de Fisioterapia Cleci Redin, que é responsável pela supervisão dos atendimentos.

Atenção, rendimento e resultados

A prática tem melhorado na produção dos colaboradores, sendo que a percepção é imediata logo após os atendimentos. “A Fisioterapia tem o poder de atuar de forma direta na causa da dor/desconforto do paciente, e após os benefícios recebidos, a adesão do colaborador se estabelece uma rotina do plano de tratamento para os próximos atendimentos”, explica o coordenador.

Além das ações preventivas para evitar o agravamento de sintomas de desconfortos musculoesqueléticos, a Fisioterapia da UCPel, através dos bolsistas, atua ainda na ginástica laboral em diversos setores da universidade. “É para retirar o profissional da postura estática e fixa e promover os benefícios do movimento, do auto-alongamento e relaxamento, impactando diretamente no bem-estar do colaborador”, explica.

Benefícios a longo prazo

O coordenador enfatiza que vários estudos apontam que a inclusão do fisioterapeuta por parte da empresa garante benefícios para os trabalhadores, como a redução do estresse no ambiente de trabalho, melhora da qualidade de vida, aumento da produtividade e redução de acidentes de trabalho. “Os benefícios para a empresa estão no aumento dos lucros, já que diminui as faltas e afastamentos por conta das lesões ocorridas no ambiente de trabalho”.

Para refletir

Na opinião do professor, a redução dos agravos ocorridos nas empresas estaria na implementação de fisioterapeutas especializados na saúde do trabalhador. “São profissionais capacitados para corrigir os posicionamentos corporais, além de elaborar modelos de ginástica laboral com a função primordial de prevenir, tratar e recuperar os funcionários durante a jornada de trabalho”, sugere. O curso de Fisioterapia vivencia esse fato e o impacto positivo na saúde do trabalhador gera, todos os anos, uma pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso dentre os acadêmicos.  “Já são vários artigos científicos publicados em revistas renomadas do país, contribuindo assim também no âmbito acadêmico”.

Futuro com mais qualidade de vida

A relação do tema com a vida após a aposentadoria ainda é uma questão complexa, segundo o professor Flaviano Silva, pois a saúde do idoso é impactada por diversas causas que podem contribuir para um envelhecimento mais saudável. “Mas sem dúvida, um trabalhador que sofre por dores, durante anos da sua capacidade ocupacional, certamente tem uma baixa qualidade de vida e isso impacta negativamente no seu processo de senilidade (envelhecimento)”, comenta.

Para ele, quem passa um terço da vida no âmbito do trabalho e for acometido por doenças, o restante dos dois terços que seriam destinados às atividades diárias e de descanso serão diretamente impactados. “Porque muitas dessas dores irão se tornar crônicas” pontua.

Acompanhe
nossas
redes sociais