Há 35 anos, a costureira Nilce Langone, de 67 anos, se dedica ao voluntariado. Mensalmente, ela e um grupo de amigas arrecadam alimentos e montam uma cesta básica para doar a 16 famílias em vulnerabilidade social, chefiadas por mães solteiras. Em todas as datas comemorativas, como o Natal e a Páscoa, são preparados kits especiais com presentes e chocolates para crianças de comunidades carentes.
Além disso, Nilce também propícia uma oportunidade de renda para as atendidas pelo grupo Compartilhando Amor. A idosa oferece cursos de corte e costura na garagem de sua casa e arrecada máquinas para doar às alunas, incentivando-as a iniciar seu próprio trabalho.
Como começou a sua trajetória no voluntariado?
Desde jovem eu e o meu marido fazíamos uma colaboração de Natal para crianças carentes, arrecadando brinquedos e guloseimas. Esse ano completa 35 anos que começamos esse serviço. Vai fazer 16 anos que ele [marido] faleceu e nós continuamos. Todos os anos levamos brinquedos para as comunidades carentes.
E nesses locais, nós fomos vendo que as pessoas precisavam de mais algumas coisas. Por isso eu comecei a dar aulas de costuras na comunidade São Vicente de Paula. É um grupo de costura para ensinar mulheres carentes. Nós ensinamos elas a costurar e ainda corremos atrás de máquinas de costura para elas poderem fazer o trabalho em casa. Porque não adianta ensinar uma profissão e a pessoa não ter como fazer.
O que mudou nos últimos anos?
Na pandemia, fechou tudo, então fazíamos máscaras para doação para as famílias carentes. Também fazíamos para hospitais, para firmas e para elas poderem vender para comprar comida. Nessa época a quantidade de famílias carentes triplicou. Tínhamos 20 alunas e quando vimos tínhamos 40 famílias para ajudar.
Enquanto isso o prédio da comunidade São Vicente de Paula foi vendido e eu trouxe o grupo de costura para dentro da minha residência. E depois disso não somos mais ONG porque o CNPJ era da comunidade, somos um grupo de colaboradores. Eu tenho amigas com poder aquisitivo melhor, que são as colaboradoras, que doam sacolas de alimentos, distribuídos todos os meses para as famílias.
Quantas alunas o grupo de costura tem atualmente?
Como a minha garagem não é muito grande, eu tenho seis alunas por turma. São cerca de 18 alunas. No salão nós tinhamos 35 alunos, então está fazendo muita falta uma sede própria para podermos trabalhar. A gente monta as máquinas e depois tem que desmontar tudo para poder guardar o carro. Mas tenho muita fé em deus que vamos conseguir uma sede.
Mas tem que ser aqui perto, porque o pessoal é tudo da beira do Canal [São Gonçalo], da Castilho. Então não pode ser um local longe do Centro porque as pessoas não vão conseguir ir.
E vocês contribuem mensalmente com famílias fixas de atendimento?
Isso, agora no momento nos temos 16 famílias. São todas mães chefes de famílias visitadas e que sabemos o que elas passam. Por exemplo, temos uma mãe com trigêmeas lá no Pestano e uma vó que ficou com a guarda de quatro netos.
A ajuda também é estendida as aldeias indígenas, certo?
Doamos uma sacola de alimentos para cada indígena das 19 famílias. Desde que eles chegaram ali [na rodoviária em 2015], nós sempre ajudamos eles. Só não passam frio e fome porque existe o grupo Compartilhando Amor. Todos eles ganharam cobertas, foram mais de 150 blusões de lã.
Como é para a senhora poder ajudar tantas pessoas necessitadas?
É poder deitar a cabeça no travesseiro e dormir com tranquilidade porque eu sei que consegui fazer alguma coisa, embora seja pequena. Tudo que fazemos aqui é com muita dedicação. Na páscoa entregamos sacolas para todas as crianças e é tudo feito com carinho. Enquanto eu estiver aqui, alguma coisa eu vou continuar fazendo e eu tenho certeza que vai dar frutos.