Nove mulheres foram mortas no Rio Grande do Sul nos quatro dias de feriadão. Houve ainda pelo menos uma tentativa. Pelotas, em dois meses, registrou 143 ameaças e 140 lesões corporais contra mulheres. Em três meses, 145 descumprimentos de medidas de proteção, oito estupros, 13 importunações, 37 perseguições e 26 casos de violência psicológica. Ou seja, tudo isso aponta para uma conclusão óbvia e gritante: a violência contra mulheres é quase regra. É uma afirmação dura, que incomoda, mas é verdade.
Vivemos em uma sociedade que parece ter como pré-definição que vidas femininas valem menos. Que são propriedade de seus companheiros. Que é permitido fazer o que quiser, quando quiser. Fruto de uma cultura moldada por séculos de misoginia normalizada e desigualdade. Em que, muitas vezes, a suposta “honra” masculina é vista como mais importante do que a vida da mulher. E isso, somado ao senso de propriedade sobre a vida alheia, é o que resulta nos índices citados acima.
O feminicídio, dizem constantemente as autoridades, é um dos crimes mais difíceis de prevenir. É passional. Acontece com poucos avisos prévios. Ainda assim, é preciso agir mais. Ser mais. O investimento em tecnologia precisa ser massivo para evitar aproximação. Se 145 homens descumpriram medidas de proteção, há que se agir para que a prevenção não seja apenas um papel. É com tornozeleira eletrônica, notificação em aplicativo e acionamento de centrais de polícia que se evita o pior.
Mas, muito mais do que agir para frear os casos potenciais que já temos consciência de que podem acontecer, é preciso investir em formação de caráter e consciência sobre igualdade de gênero. É preciso formar homens que não carreguem consigo o senso de propriedade sobre o corpo feminino. Que não carreguem ódio diante de uma negativa. Que não se sintam menos homens com um não, um fora, um término, mas que entendam a individualidade da mulher e respeitem elas. Só assim vamos parar de empilhar corpos enquanto nos questionamos onde isso vai parar.