Educação de surdos é marcada por avanços e carências no país

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Educação de surdos é marcada por avanços e carências no país

Desde a oficialização da Libras, em 2002, a acessibilidade evoluiu, mas lacunas persistem dentro e fora da educação

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Atualizado quarta-feira,
23 de Abril de 2025 às 11:56

Educação de surdos é marcada por avanços e carências no país
Escola Alfredo Dub é a referência na promoção de educação focada no ensino de Libras em Pelotas. (Foto: João Pedro Goulart)

Comemorado nesta quarta-feira, o Dia Nacional da Educação de Surdos resgata reflexões sobre a importância da inclusão escolar e as barreiras ainda enfrentadas por deficientes auditivos. Além disso, amanhã é celebrado o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), a língua usada pela maioria dos surdos no país. Há 23 anos, na mesma data, após anos de luta, foi sancionada a lei que reconheceu a Libras como meio de comunicação para a comunidade surda brasileira e proporcionou avanços na acessibilidade.

Em Pelotas, a Escola Alfredo Dub se destaca como um espaço dedicado a promover uma educação acessível e de qualidade, com foco no ensino de Libras. Gabrielle Zitzke é uma ex-aluna da escola e, atualmente, ensina a língua de sinais a alunos da educação infantil e do ensino fundamental, além de ajudar famílias de estudantes a usar o modelo de comunicação e participar de outros projetos.

A professora explica que a Alfredo Dub é uma escola bilíngue para surdos, ou seja, que utiliza a Libras como língua de instrução e o português escrito como segunda língua. Para facilitar a compreensão, há o emprego de imagens, vídeos, fotos com os sinais correspondentes e outros recursos adaptados. Existe, também, o projeto Ser Libras, que trabalha a escrita de sinais e é um apoio importante no aprendizado. “O uso do português está presente, mas o foco são as estratégias visuais”, ela destaca.

Educação de surdos

Para Gabrielle, um dos desafios na instrução de surdos é a diversidade em sala de aula. A presença de alunos surdos, ouvintes, com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e autistas, exige muitas adaptações. Para isso, é preciso apresentar o conteúdo com abordagens diferentes e respeitar o tempo de aprendizagem de cada aluno.

Em um olhar mais abrangente, a professora entende que a preparação das escolas varia. Ela pontua que muitos educandários ainda não estão prontos para receber alunos surdos. Para mudar esse cenário, é fundamental reconhecer a Libras como língua principal do surdo, incluir professores formados em Letras-Libras e garantir adaptações adequadas para um ensino bilíngue de qualidade. “O ensino bilíngue precisa ser levado a sério”, enfatiza.

Desafios e lacunas atuais

Segundo a professora, apesar dos avanços registrados nos últimos anos, a comunidade surda ainda precisa superar obstáculos diários. No comércio, por exemplo, o atendimento é precário e a comunicação não é acessível. No cinema, raramente há legendas, e quando há, é em horários ou locais pouco acessíveis.

Outro ponto é a participação da família nas atividades escolares. “Quando comecei a trabalhar aqui, percebi que poucas famílias participavam das oficinas de Libras. Isso está mudando, mas ainda é um desafio”, relata, e reivindica: “Precisamos de mais profissionais capacitados para trabalhar com alunos surdos”.

Ações locais e iniciativas

A diretora da Alfredo Dub, Fabiane Carvalho, afirma que a escola está dialogando com o poder público municipal para ampliar o uso da Libras nos serviços oferecidos por todas as secretarias, principalmente de Saúde, Assistência Social e Educação. Há também uma lei municipal antiga, proposta pela então vereadora Miriam Marroni (PT), atualmente secretária de governo, que previa a presença de atendentes com Libras em estabelecimentos. A ideia é resgatar e aplicar essa lei.

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