A Páscoa, uma das celebrações mais significativas no calendário religioso, é vivida de maneiras distintas pelas diversas tradições religiosas.
Para cristãos, judeus e adeptos das religiões de matriz africana, este período carrega significados profundos que vão além do simples ato de celebrar, representa a renovação, a libertação e a transformação espiritual.
Olhar cristão
Dentro do cristianismo, a Páscoa marca a ressurreição de Jesus Cristo e é considerada a celebração mais importante do ano litúrgico. No catolicismo, a data é antecedida pela Quaresma, um período de 40 dias de preparação espiritual.
A Semana Santa é o ápice da jornada, começando com o Domingo de Ramos e culminando na celebração da ressurreição no Domingo de Páscoa.
Segundo o padre Jaime Souto, pároco da Paróquia São Cristóvão de Pelotas, a Páscoa simboliza a vitória da vida sobre a morte e o reencontro do homem com Deus. “Jesus assumiu tudo do homem, menos do pecado (…) [e a morte Dele] significa a volta à vida eterna, a volta ao paraíso, a volta ao convívio com Deus face a face”.
Elison Bitencourt faz parte da Paróquia Santíssima Trindade em Pelotas, conhecida por realizar a encenação da via sacra de Jesus na Sexta-Feira Santa. Para ele, participar desse momento é transformador. “É onde vejo a vivência da minha comunidade muito forte”.
No protestantismo, em especial no luteranismo, há uma forte ênfase nos eventos bíblicos que conduzem à Páscoa. O pastor Flavio Weiss, da Igreja Luterana, destaca que o período é celebrado com cultos marcantes, como a Santa Ceia da Quinta-feira Santa, a reflexão da Sexta-feira da Paixão e os cultos da ressurreição ao amanhecer do Domingo de Páscoa, em alusão ao momento em que os discípulos encontraram o túmulo vazio.
Um símbolo característico entre luteranos é a Osterbaum, uma árvore com galhos secos e ovos coloridos. “Ela serve para nos lembrar do sofrimento de Jesus, dos nossos pecados [galhos secos] e da alegria, do perdão e da ressurreição [ovos coloridos]”.

Luteranos fazem uso do Osterbaum para refletir sobre a Páscoa
O Pessach
Diferente da Páscoa cristã, o Pessach, celebração judaica, rememora a libertação dos hebreus da escravidão no Egito. Conforme explica Jairo Halpern, judeu praticante, o Pessach dura oito dias e ocorre sempre na primavera israelense, sendo regido pelo calendário lunar hebraico.
Durante esse período, os judeus evitam alimentos fermentados e consomem o pão ázimo (matzá), em alusão aos dias de fuga pelo deserto.
Uma das tradições mais importantes do Pessach é o Sêder, um jantar cerimonial realizado nas primeiras duas noites, onde se relembra a história do êxodo através da leitura da Hagadá, com um manual para a celebração da Páscoa judaica.
“Cada geração, cada judeu deve sentir-se pessoalmente, como se estivesse no Egito para entender como foi dura e sofrida a fuga em busca da liberdade”, explica Jairo sobre o intuito da celebração.
Renovação e espiritualidade
Dentro das tradições afro-brasileiras, a Páscoa não segue os preceitos cristãos, mas é um período de renovação, renascimento espiritual e principalmente fortalecimento da fé. A mãe Gisa de Oxalá, líder do Terreiro Caboclo Rompe Mato Ile Axé Xangô e Oxalá, explica que na casa onde atua não há vínculo com o sincretismo, mas há um respeito pelas celebrações cristãs.
O orixá Xapanã, associado à transformação e renascimento, é considerado dentro da tradição como uma força espiritual que remete à renovação. Além disso, a espiritualidade afro-brasileira vê a morte como um processo de passagem, onde o corpo se desfaz, mas o espírito permanece ligado à ancestralidade.
A troca e o diálogo entre diferentes crenças são incentivados, desde que haja respeito. “No momento que tu respeita as pessoas e todas as outras tradições, o diálogo é enriquecedor”, afirma Gisa.