Ele está disponível o ano inteiro, mas na Páscoa se torna objeto de desejo de mais pessoas, especialmente das crianças. Além do sabor característico dessa sobremesa, o cacau, um fruto que nasce no tronco do cacaueiro, traz benefícios à saúde e, se consumido com moderação, pode entrar na dieta de quase todo mundo.
Independentemente do formato: ovos, barras, coelhinhos, personagens ou qualquer outro tipo, o chocolate pode ser uma rica fonte de compostos bioativos, comenta o nutricionista Gabriel Veiga, pós graduado em Nutrição Esportiva e Bioquímica do Metabolismo e mestre em Nutrição.
Entre eles estão: flavonóides, cafeína, teobromina e ácidos graxos saudáveis, além de possuir propriedades antioxidantes, estimulantes e cardioprotetoras.
Veiga chama a atenção para os flavonóides, uma classe de antioxidantes que ajuda a melhorar o metabolismo.
“Tudo que é antioxidante acaba contribuindo para, vamos dizer, uma redução de inflamação, um quadro muito importante, porque hoje sabemos que a maior parte das doenças crônicas têm um cunho de processos inflamatórias”, comenta.
Claro que isoladamente o chocolate não será responsável por tratar essas inflamações do organismo, mas sim um alimento que pode ser encaixado num padrão alimentar saudável.
“Inclusive vindo a contribuir com benefícios ao nosso corpo, principalmente relacionados à função antioxidante”, fala o nutricionista.
Entre os compostos naturais do cacau estão as catequinas que são conhecidas por suas propriedades anti-inflamatórias, antialérgicas, anticancerígenas e antioxidantes, completa a nutricionista Natália Rodrigues Cardozo. “E tem a cafeína, que também é antioxidante e anti-inflamatória”, lembra.
Quanto mais, melhor
Com os propagados benefícios parece fácil fazer essa escolha. Porém, consumir um chocolate que seja nutricionalmente recomendável não é tão simples assim.
“Em regra geral a gente pode considerar que quanto maior o percentual de cacau, mais associado aos benefícios do fruto do cacaueiro”, comenta Veiga. Ou seja, não basta ser chocolate para ser recomendável ao consumo. Tem que ter quantidade do seu principal ingrediente, o cacau.
Dessa forma, os produtos com mais de 70% de cacau são os mais recomendados, porque, supostamente, terão menor adição de açúcar ou outros aditivos nocivos à saúde.

O deal é que chocolates tenham ao menos 50% de cacau
“O consumo não vai ter problemas, a não ser quando se pensa em um chocolate rico em açúcares, de baixa qualidade nutricional. Aí sim, se consumido excessivamente vai trazer uma probabilidade de o indivíduo ter um disparate calórico, um ganho de peso, prejuízo a sua saúde metabólica, principalmente pelo grande aporte de gorduras, como o chocolate branco. Então o tipo de chocolate faz uma grande diferença”, fala Veiga.
Mesmo na dieta
Os nutricionistas concordam que bons chocolates podem sim ser inseridos nas dietas hipocalóricas, mesmo para quem quer perder peso.
“A gente não pensa em dieta só para perder peso, a gente pensa em dieta para ter saúde, então o chocolate é adequado a maior parte dos indivíduos”, acrescenta o nutricionista.
Quando o chocolate é rico em açúcares se torna um alimento com alto índice glicêmico. O pico de açúcar entra na corrente sanguínea e faz com que as glândulas sebáceas produzam mais sebo, a substância se deposita na pele e nos cabelos.
Por isso, comer chocolate não é recomendado para quem faz tratamento contra a acne, por exemplo. “Isso também vai acontecer quando o consumo for excessivo”, adverte Veiga.
Natália, por exemplo, libera um chocolatinho para alguns de seus pacientes, por exemplo, antes de irem para a academia. Porém esse docinho tem que ter pelo menos 50% de cacau, para que tenha uma funcionalidade, além do açúcar.
“O açúcar vai te ajudar a ter um pouco mais de energia, rapidamente, se for correr ou algum exercício rápido, mas se a gente for pensar nas catequinas e cafeína, teria que consumir um mais acentuado em cacau”, fala a nutricionista.
Mas o melhor horário mesmo é depois do almoço. Natália lembra também que o cacau contém magnésio e ferro. “O cacau é alto em ferro. Pode auxiliar aquelas pessoas com anemia”, fala a nutricionista. Mas se for comparar com outros alimentos, o melhor é buscar esse elemento no feijão e em diferentes leguminosas.
Comprar com cuidado
O problema é que quanto mais cacau, menos palatável se torna o doce. Por isso muitas pessoas não toleram os chocolates com mais de 60% do ingrediente.
Segundo Natália, o que deixa o chocolate agradável é a quantidade de gordura e açúcar. Porém, quanto menor é a quantidade de ingredientes e maior a de cacau, os produtos ficam mais caros.
“Quando você for comprar um chocolate, olhe primeiro os ingredientes. O primeiro tem que ser alguma coisa relacionada ao cacau”, aconselha a nutricionista.
Os abaixo de 50%, geralmente, têm como primeiro ingrediente o açúcar ou a manteiga de cacau. Existem os de até 80% e 100%, mas são poucos os que gostam de consumir.
E muito cuidado com rótulos enganosos. Natália já percebeu em alguns produtos a denominação “amaro”, que pode enganar o consumidor, porque possuem cerca de 40% de cacau.
“Ou seja, ele não é amargo. Os pacientes chegam me relatando que acreditam que seja amargo”, comenta. Mas se não dá para comprar ou consumir os mais amargos, o recomendado é evitar os mais gordurosos.
“Mas todos os dias dá para colocar um pouquinho na dieta”, fala Natália. Uma estratégia é evitar a barra de chocolate. O melhor é comprar os pequenininhos. “Aconselho o bombom, o bastão”, diz a nutricionista.
Os chocolates misturados com biscoitos e wafers não são recomendados. Natália também alerta para se ter cuidado com os chocolates zero açúcar, para evitar o consumo excessivo de gorduras.
Para os que têm intolerância a lactose, a nutricionista indica os com zero lactose ou pequenas porções de chocolate normal, mas acima de 70%, para quem tem a doença controlada.
O chocolate pode interferir no sono, então se a pessoa tem sensibilidade à cafeína, não deve comer à noite. Também não é indicado a gestantes, por causa da mesma substância.
“Há poucos anos os nutricionistas tinham a recomendação de uma quantidade de cafeína por dia, com o medo de provocar o aborto, não se tem mais a dosagem mínima. Assim como os chás, a Coca-Cola, Guaraná, tudo isso é perigoso. Eu corto em todo o período de gestação”, adverte Natália.
Diferentes tipos de chocolate
- Chocolate branco: não tem cacau e tem mais açúcar e gordura, não é bom para a saúde.
- Chocolate ao leite: o mais comum nos mercados, pode conter em média de 25% a 50% de cacau. É preciso muito cuidado no consumo, o bom é verificar os ingredientes e depois a tabela nutricional, porque é muito comum ter uma quantidade excessiva de açúcar e gordura.
- Chocolate meio amargo: deve ter pouca quantidade de manteiga de cacau e açúcar e com uma concentração de cacau, em média, de 40% a 55%.
- Chocolate amargo: baixas quantidades de açúcar e gordura. É o tipo que tem mais cacau, entre 60 a 85% ou mais.