Fim do La Niña não diminui preocupação com estiagem

Clima

Fim do La Niña não diminui preocupação com estiagem

Especialistas apontam que período de seca deve permanecer nos próximos meses

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Atualizado terça-feira,
15 de Abril de 2025 às 17:43

Fim do La Niña não diminui preocupação com estiagem
Cenário causou prejuízo de mais de R$ 300 milhões na região até aqui (Foto: Jô Folha)

O fim do fenômeno climático La Niña, anunciado por instituições meteorológicas internacionais, trouxe expectativas de mudanças no regime de chuvas no Rio Grande do Sul. No entanto, as previsões indicam que os volumes de chuva devem continuar abaixo da média nos próximos meses, agravando ainda mais os prejuízos na agricultura e no abastecimento de água. Na região Sul, cinco municípios já decretaram emergência por falta de precipitação.

O La Niña é um fenômeno oceânico-atmosférico caracterizado pelo resfriamento das águas do Pacífico, associado a verões mais secos no Sul do Brasil. Com seu fim, inicia-se uma fase de neutralidade climática. No entanto, meteorologistas afirmam que isso não significa normalização imediata do clima.

“A previsão climática para maio indica, ainda, chuvas abaixo da média […] Além do fenômeno La Niña, as concentrações de gelo no entorno do Continente Antártico e a temperatura das águas superficiais do Oceano Atlântico Subtropical contribuíram para o cenário de chuva abaixo da média”, explica Eliana Klerig, professora de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Preocupação na região

Em Canguçu, Herval e Pinheiro Machado, Santana da Boa Vista e São Lourenço do Sul, que já têm decretos em vigor, as perdas superam os R$ 300 milhões, concentrados principalmente nas lavouras. A situação também começa a impactar a pecuária, especialmente entre pequenos produtores que enfrentam falta de água para os animais e pastagens secas.

O impacto financeiro para os pequenos e grandes produtores é a principal preocupação da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), que busca renegociar as dívidas do setor. “Nossa grande preocupação é justamente para essas regiões, para esses produtores que tiveram danos severos e vão ter dificuldade em cumprir os seus compromissos, seja com fornecedores, com cooperativas ou com sistema financeiro”, afirma o diretor Fernando Rechsteiner.

Conforme ele, é necessário dar tranquilidade financeira para que os produtores sigam atuando. “Precisamos de um programa de renegociação desse endividamento, porque infelizmente nós temos produtores hoje que estão com endividamento, que se nós não tivermos um longo prazo, juros compatíveis, um período de carência, esses produtores não vão conseguir fazer frente a essas dívidas e não vão conseguir continuar produzindo, o que é fundamental para nossa região”, argumenta.

Perspectivas para os próximos meses

De acordo com os modelos meteorológicos mais recentes, os próximos meses devem continuar registrando chuvas abaixo da média, com períodos de precipitação concentrados, seguidos de longas estiagens. Esse padrão dificulta a reposição dos níveis dos reservatórios e a umidade do solo, especialmente em áreas já castigadas desde o verão.

Eliana explica que, embora a chegada do outono e do inverno reduza a evaporação, a recuperação dos recursos hídricos pode levar meses. “Segundo as previsões climáticas, as chuvas devem permanecer ainda abaixo da média pelos próximos três meses, maio, junho e julho”, afirma. Além disso, conforme ela, a chuva deve retornar à normalidade apenas no verão de 2026.

O meteorologista Júlio Marques, do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPPMet) da UFPel, complementa que o cenário deve se manter nos próximos meses e prevê uma piora para 2026. “A tendência é esse outono ainda ter chuva irregular na maior parte do Estado, isso não deve acabar com a estiagem, deve amenizar apenas. O grande problema talvez seja lá no final da próxima primavera, começo do outro verão, porque há uma tendência já de que a gente possa ter um outro La Niña no próximo ano e isso sim vai comprometer, porque aí vai já pegar o pessoal com as reservas um pouco baixas”, afirma.

Municípios da região com decreto de emergência devido à estiagem 

  • Pinheiro Machado
  • Santana da Boa Vista
  • Herval
  • São Lourenço do Sul
  • Canguçu

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