Há muito mais profundidade do que o proibir ou permitir no debate que envolve a proibição ou não de veículos por tração animal em Pelotas. Há as percepções iniciais gritantes: de um lado, se defende a saúde e bem-estar dos animais, causa que cresce e tem solidez e argumentos inegáveis. De outro, usa-se o argumento da questão social: famílias dependem de suas charretes para tirar o próprio sustento. E, no meio disso, há um oceano de possibilidades que precisam ser exploradas na tomada de decisão.
A recomendação do Ministério Público tem quase um ano e até o momento nada andou. Por isso, houve um segundo alerta. Os governos que passaram por Pelotas no período têm tido reticências pelo impacto que qualquer movimento pode causar. Como quase tudo, é um debate polarizado que trará impactos diretos na sociedade e vai, de forma ou outra, causar irritação em algum lado.
No entanto, entre idas e vindas, já vai para uma década de debates e a falta de celeridade trava qualquer desenvolvimento envolvendo o tema. É preciso soluções e o movimento gradual parece ser a saída mais acertada. Mas há que se mexer e com justiça para com os trabalhadores: quem cata lixo para sobreviver sequer deveria estar nesta situação, em um primeiro momento, e não pode ter seu sustento retirado sem opções realmente decentes de encontrar uma nova renda.
Ao observar movimentos tomados em outros lugares, quase todos pareceram insuficientes e a tração humana para tais veículos é tão injusta e desumana quanto a animal. “Ter escolha”, é subjetivo. Quem escolheria isso, se tivesse outras opções realmente decentes? Formações parecem ser uma saída, mas como garantir que as pessoas terão sustento e renda com um curso de manicure ou barbeiro, por exemplo, quando lhes é tirado o que era visto como uma garantia?
Enquanto isso, são 600 famílias pelotenses e mais de dois mil animais que aguardam uma resposta das autoridades para que todos tenham uma solução justa. Dentro da necessidade de diversos debates de cidade que Pelotas sempre empurra com a barriga para encontrar uma solução, esse é um dos mais urgentes, pois mexe com a dignidade das pessoas e com a saúde dos animais.