O furto de 600 metros de fios na última segunda-feira ainda causa impactos para os motoristas que circulam pela parte norte do Centro de Pelotas e entra para a estatística dos 33 registros desde o início do ano. Sem o material, as sinaleiras das principais vias que cruzam a rua Antônio do Anjos ficaram desligadas até a madrugada de quarta-feira (28), quando algumas foram recuperadas. Mas a da rua Marechal Deodoro não foi possível restabelecer e o resultado foi de caos em horário de pico no local.
Pelo levantamento da CEEE Equatorial, Rio Grande ficou em segundo lugar e Pelotas em quinto, no ranking com mais registros no Estado em 2024. Pelo Observatório de Segurança Pública de Pelotas, só em 2025 já foram registrados 33 furtos de fios e cabos e 12 no indicador de furto qualificado.
Quem trafega pela Antônio dos Anjos precisa de um esforço enorme para acessar a Deodoro. A Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (SMTT) chegou a fazer um alerta ao motorista para ter cuidado nos cruzamentos. Para o secretário Eduardo Monteiro Machado, o furto de fios tem se tornado um problema recorrente que impacta diretamente a segurança e a fluidez do trânsito pelotense.
Os agentes de trânsito atuam de forma a amenizar os impactos colocando placas de “PARE”, além de prestar orientação do trânsito. Machado garante que a secretaria busca soluções para combater essa prática criminosa. “Além do trabalho de sinalização e reparo, estamos intensificando a fiscalização em áreas críticas e buscando parcerias com outros órgãos de segurança para identificar e punir os responsáveis por esses furtos.” Uma delas é o pedido para que a população informe as polícias em casos de flagrantes.
Criminalidade
Uma dessas denúncias – na última sexta-feira – resultou na prisão de dois homens, de 42 e 45, por furto de fios e cabos. Segundo a Brigada Militar (BM), os policiais interceptaram o veículo suspeito na rua Santa Clara, bairro Santa Terezinha. Com a dupla foi recolhida grande quantidade de material furtado. Para a BM, a prisão representa um importante passo no combate desse tipo de crime que tem afetado diversos setores da sociedade, como empresas de telecomunicações, serviços de energia elétrica e iluminação pública. Mas ainda não é suficiente.
Medidas
Uma das mais prejudicadas com o furto de fios, a CEEE Equatorial tem investido em novas tecnologias e parcerias estratégicas para enfrentar o problema do furto de cabos na área de concessão. A implantação de nanotecnologia, que permite a identificação dos cabos da distribuidora, dificultando a comercialização ilegal e auxiliando na recuperação do material furtado é uma delas. Além disso, a empresa mantém uma colaboração ativa com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), para a redução das ocorrências.
No entanto, o combate ao furto de cabos vai além das iniciativas da companhia. Para a empresa, o tema deve ser tratado como uma questão de segurança pública. O executivo de segurança empresarial do Grupo Equatorial, Johnathan Costa, reforça a necessidade de uma abordagem conjunta, envolvendo forças de segurança, empresas e sociedade. “É fundamental que a Brigada Militar e a Polícia Civil intensifiquem suas ações para coibir esses delitos.”
Registros
A Secretaria de Segurança Pública de Pelotas atribui o problema do furto de fios à legislação vigente, que é branda em relação a esse tipo de crime. “Drogadição é um problema sério, uma vez que o indivíduo usuário, para usar mais, acaba cometendo furtos. O combate a esse crime também passa pelo monitoramento de câmeras, por patrulhamento ostensivo, que já tem sido feito”, diz o titular da pasta, major Márcio dos Santos Medeiros. “Outro grande problema é o receptor. É oferta e procura. Se tem quem compra, infelizmente tem quem furte para vender”.
Punir ou recuperar socialmente
Ao analisar a questão do furto de fios e cabos, o especialista em direito penal e criminologia, pós doutorando em segurança e sistema de justiça (UFF) e professor da UCPel, Aknaton Souza, diz que esse tipo de crime está diretamente ligado à desigualdade social e aponta como alternativa o ajuste dessas diferenças para que as pessoas que se encontram em vulnerabilidade e à margem social não busquem meios ilícitos de sanar necessidade urgentes, seja ela alimento ou, infelizmente, o vício. “É preciso políticas públicas para além daquelas do direito penal, da punição”.