Demanda da região há mais de 50 anos, a proposta de ponte entre Rio Grande e São José do Norte deu um importante passo na última sexta-feira, com o lançamento do edital de licitação dos projetos básico e executivo de engenharia. Conforme o documento, uma empresa deverá iniciar o serviço ainda no primeiro semestre com prazo de conclusão de três anos.
O investimento total estimado para a realização dos projetos é de R$ 10,3 milhões e será custeado pelo governo federal, através do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). De acordo com o presidente da Associação Pró-Ponte RG-SJN, Jair Rizzo, a conclusão da fase atual representa 80% da realização da obra.
O certame
A licitação será realizada em formato eletrônico e terá como critério de julgamento o menor preço e, posteriormente, a melhor técnica. Empresas interessadas podem apresentar uma proposta até 14 de maio, às 15h, quando ocorrerá a sessão pública para abertura das propostas. Após essa etapa, inicia-se a análise técnica e habilitação da empresa vencedora.
Próximos passos e cronograma
Após a elaboração dos projetos, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) realizará uma nova licitação para selecionar a empresa responsável pela execução da obra. A estimativa é que a construção da ponte leve dois anos e tenha um custo aproximado de R$ 1 bilhão.
Expectativa positiva
Rizzo garante que, apesar do prazo de três anos, a expectativa é que os projetos sejam entregues em no máximo dois anos. “A gente tem uma expectativa muito grande de licitar a obra, e nós vamos trabalhar por isso, em 2027. Nós queremos a inauguração dessa ponte em 2029 ou 2030. Não vamos passar da conta aí”, projeta.
A ponte
Com cerca de 3,8 quilômetros de extensão, a ponte deverá sair da avenida Honório Bicalho, no Clube Regatas, em Rio Grande, e seguir até o arroio do Laracha, em São José do Norte. Entre os potenciais modelos viáveis destacam-se pontes com o estilo canivete e com elevação.
Exemplo na região Metropolitana
A ligação a seco na região Sul é frequentemente comparada à nova ponte do Guaíba devido ao seu vão móvel e a sua extensão, de 2,9 quilômetros. A efeito de comparação acerca dos prazos, a estrutura que faz ligação com a capital levou um ano e seis meses para concluir os projetos básicos e executivos, além de ter prazo de duração previsto para dois anos e custo de R$ 900 milhões.
Apesar do cronograma, a segunda ponte do Guaíba iniciou as obras em 2014 e ainda não está 100% concluída. O motivo do atraso foram problemas na elaboração dos projetos e para desapropriação de residências de moradores.
Impacto regional
A construção da ponte entre Rio Grande e São José do Norte representa um marco estratégico para a economia regional e estadual. Com uma ligação a seco entre os dois municípios, o Porto de Rio Grande – já consolidado como o quinto maior do país – terá a oportunidade de dobrar sua capacidade operacional e se tornar o segundo maior porto público do Brasil, atrás apenas de Santos (SP).
Expansão portuária e desenvolvimento industrial
O projeto abre caminho para a ampliação dos terminais portuários na margem de São José do Norte, viabilizando novos investimentos e aumentando significativamente a movimentação de cargas. Atualmente, o distrito industrial rio-grandino dispõe de poucas áreas disponíveis, enquanto no lado nortense existe um vasto espaço para expansão.
De acordo com o Estudo Técnico Preliminar do Dnit, na margem de São José do Norte há um canal de navegação natural, com profundidade em torno de 14 metros e com extensão suficiente para atracar mais de 16 navios de 360 m de comprimento cada um, garantindo a possibilidade de 19 berços e seis terminais.
Impacto logístico no escoamento
Atualmente, a logística terrestre para o Porto de Rio Grande acontece, majoritariamente, pelas BRs 116 e 392. A partir da ligação a seco, a BR-101 surge como uma alternativa de deslocamento que pode não só atrair investimentos para São José do Norte, mas também potencializar o complexo rio-grandino.
Com a maior utilização da rodovia, será necessária uma série de melhorias para atender a grande demanda de veículos de carga. “A partir da ponte, que faria essa ligação a seco, teria que ter investimentos na qualificação da estrada [BR-101] para poder ter essa capacidade na movimentação de cargas, porque iria aumentar o fluxo de utilização da estrada”, disse o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger em uma entrevista recente.
A ligação terrestre entre os municípios diminuirá em cerca de 100 quilômetros a distância percorrida pelas cargas vindas do Norte do RS e de outros estados até o Porto de Rio Grande. Isso representará uma economia significativa em custos operacionais, tempo de viagem e tarifas de pedágio, tornando a logística mais competitiva.
Necessidade de investimentos
Além dos reparos na rodovia, Klinger argumenta que São José do Norte também deverá “melhorar a infraestrutura da própria cidade para receber grandes investimentos”. Atualmente, a falta de infraestrutura no município no distrito industrial afasta grandes investidores.
“Quando o investidor vai olhar para fazer um investimento na margem de Rio Grande, onde já se tem todo o acesso, ou na margem de São José do Norte que você fica limitado nas condições que a BR-101 tem, você acaba atraindo esse investimento para Rio Grande […] Agora, ao ser proporcionada a ligação a seco e uma melhora na infraestrutura da BR-101, você traz também essa capacidade de atrair esses investimentos”, disse.
Alternativa de mobilidade
Além de surgir como alternativa para a logística do Porto, a ponte também será essencial para a mobilidade da população, que utiliza os serviços de lancha e de balsa para trafegar entre os municípios. Atualmente, o primeiro modo, possui uma movimentação diária de oito mil pessoas.
Oportunidade para energias renováveis
A nova estrutura também impulsionará setores estratégicos, como a geração de energia eólica offshore e o desenvolvimento de projetos ligados ao hidrogênio verde, segmentos que podem atrair novos investidores para São José do Norte.