A avenida Engenheiro Ildefonso Simões Lopes, uma das principais vias de Pelotas, não acompanhou o crescimento populacional de seu entorno nos últimos 15 anos. Com buracos, pouca sinalização e um fluxo intenso de veículos, a avenida é um desafio diário para os motoristas. Em horários de pico, o trânsito apresenta congestionamentos constantes, aumentando os riscos de acidentes. Segundo a prefeitura, nos últimos 12 meses, houve 36 registros de acidentes no local, apenas com danos materiais.
Morador do bairro Liberdade há menos um ano, Francisco Silva, 36, relata que a região cresceu muito nos últimos anos, mas a principal via de acesso ao bairro não recebeu melhorias proporcionais ao avanço. A falta de duplicação e as más condições da via geram transtornos diários. Buracos recorrentes, que reaparecem muitas vezes após chuvas, obrigam os motoristas a fazerem manobras de risco.
Francisco também menciona que acidentes são frequentes, sobretudo em dias chuvosos. Em menos de um ano, ele já presenciou várias colisões e quase sofreu um acidente na avenida. Sobre o trânsito, diz que percorrer um trecho de cerca de dois quilômetros pode levar entre 15 e 20 minutos em períodos mais críticos do dia. A via é a única opção para desafogar a região, que recebe tráfego dos bairros Pestano, Sanga Funda e Arco-Íris.
Para a moradora do bairro Arco Íris há 25 anos, Maria Claudia Marques, a presença de novos bairros e empreendimentos aumentou a população e o fluxo de veículos. Ela chama a atenção para a falta de sinalização viária adequada e aponta que nem mesmo a linha central da pista é visível em alguns pontos. Segundo a mulher, grande parte dos acidentes acontecem à noite, quando a baixa visibilidade e a falta de sinalização agem contra a segurança dos motoristas.
Aumento da demanda
A chefe da agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Pelotas, Tatiana Gautério, ressalta que a cidade não teve aumento populacional entre os censos demográficos de 2010 e 2022. Por outro lado, houve grande crescimento na construção de casas, especialmente no entorno da avenida Ildefonso Simões Lopes, com o surgimento de novos bairros como o Liberdade e o Moradas Clube.
De acordo com o Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEF) – que contém informações sobre todos os endereços cadastrados nos Censos de 2010 e 2022 -, em 2010, havia 534 endereços na avenida, enquanto em 2022 esse número subiu para 903, indicando um aumento significativo nas construções. Tatiana destaca que esses dados incluem tanto endereços residenciais quanto comerciais.
As tabelas (veja ao lado) mostram o crescimento populacional e o aumento no número de domicílios nos bairros Três Vendas e Areal, entre 2010 e 2022. Apesar da redução da população total do município, esses bairros apresentaram aumento no número de moradores e residências.
Problemas e soluções
A professora da UFPel e especialista em Engenharia do Transporte Terrestre, Raquel Holz, diagnosticou alguns problemas encontrados na avenida Engenheiro Ildefonso Simões Lopes. São eles:
- infraestrutura precária, com buracos e drenagem ineficiente;
- falta de semáforos, placas e faixas de pedestres;
- em horários de pico, a via fica congestionada;
- poucas rotas alternativas para “desafogar” o trânsito;
- ausência de faixas exclusivas para ônibus.
Para a especialista, algumas soluções de transporte e mobilidade urbana poderiam ser implementadas, como a requalificação da infraestrutura viária. Isso inclui recapear o asfalto para corrigir buracos e ondulações, melhorar a drenagem para evitar alagamentos e reorganizar as interseções para otimizar o fluxo e reduzir pontos de conflito.
Outra medida favorável seria a melhoria na sinalização e no controle de tráfego. Para isso, é preciso instalar novos semáforos em pontos críticos e sincronizar os existentes para evitar congestionamentos. Além disso, estabelecer faixas de pedestres elevadas e redutores de velocidade para garantir maior segurança aos pedestres.
Ampliar e requalificar o transporte público também seria uma alternativa. O aumento da frequência e cobertura dos ônibus pode incentivar o uso do transporte coletivo. Criar faixas exclusivas para ônibus, modernizar os pontos de parada com abrigos, iluminação e informações sobre horários e itinerários.
Por fim, ela cita a implementação de infraestrutura para a mobilidade ativa. Ou seja, criar ciclovias ou ciclofaixas para a segurança de ciclistas e redução do uso de veículos individuais. Também, ampliar as calçadas para facilitar a locomoção de pedestres, incentivando deslocamentos a pé.
Investimentos na zona norte
O secretário de Urbanismo, Otávio Peres, admite que o ideal seria a duplicação da avenida, contemplando espaço adequado para ciclistas, paradas de ônibus com recuos e rotatórias nos cruzamentos de maior fluxo. No entanto, os investimentos têm ocorrido em outras vias estruturantes da mobilidade. Para a zona norte, por exemplo, há obras em andamento na avenida Fernando Osório. “De fato, é uma área que precisa receber investimentos. Estamos falando de uma necessidade de duplicação da avenida”, diz. Ele afirma que a melhoria e a duplicação da avenida Ildefonso Simões Lopes estão previstas no plano de mobilidade do governo.
O secretário justifica que constituir a avenida em mão dupla permitiria realizar com maior eficiência o escoamento da mobilidade ao longo da Ildefonso Simões Lopes. A solução deve ser, ele complementa, alcançar recursos para a duplicação e efetiva melhoria.
Segurança: o que está sendo feito?
Quanto à segurança viária, Peres reconhece que a sinalização no local apresenta deficiências e demonstra ciência da necessidade de melhorias. Nesse sentido, a prefeitura está considerando medidas, como:
- reforçar a sinalização horizontal e vertical com a instalação de novas placas e faixas de pedestres;
- intensificar a fiscalização para coibir o excesso de velocidade, com radares de velocidade em pontos críticos.