O investimento em tecnologia e inovação é uma das chaves para alavancar a economia da Zona Sul. Ainda assim, a região, apesar de acumular os conhecimentos das universidades com as ideias dos potenciais empreendedores, carece da captação de recursos, devido ao conservadorismo econômico nos negócios locais.
Startups formadas em Pelotas alcançaram abrangência nacional nos últimos anos – a principal delas talvez seja a Melhor Envio, empresa de logística criada no Município e vendida à gigante do setor Local Web, em 2021, pelo valor de R$ 86 milhões.
Um caso de sucesso que até poderia ter colocado a região como um player de tecnologia e inovação no Estado. O Sebrae, no entanto, classifica o ecossistema de Pelotas como “Em Construção”, não apenas pela dificuldade de captação de recursos, mas também pela dificuldade de interação entre vértices.
A região estrutura-se para alcançar o status de “Ecossistema Maduro”. Há dois fatores que precisam melhorar: tração de investimentos e articulação de políticas públicas.
Interação
Ecossistema é a interação entre a quádrupla hélice – governo, universidades, empresas e sociedade civil – para fortalecer a inovação na região.
Candy Valley (ou Vale do Doce)
Em 2018, aproximadamente 20 pessoas ligadas a seis startups localizadas do Parque Tecnológico de Pelotas reuniram-se para a formação do Candy Valley (ou Vale do Doce), inspirado no Vale do Silício, maior exemplo em inovação e tecnologia mundial.
A ideia foi a de ampliar essa relação entre as empresas nas ações do Parque Tecnológico, no intuito de criar iniciativas e oportunidades para a consolidação de empreendimentos no setor.
A movimentação, agora, é para transformá-lo em uma associação, afirma Raul Torma, presidente do Candy Valley. “O Vale do Silício começou justamente nessa conexão, da Universidade de Stanford, indústrias do local e pessoas que queriam começar a empreender, dentre elas o Bill Gates”, aponta Torma.
Atualmente, 25 startups estão associadas. “O Candy é um grande intermediador”, define Torma. “O objetivo é auxiliar as startups a começarem e a se fixarem no mercado, pela conexão no ecossistema”, completa.
Pitchs e Drinks
O Candy Valley organiza eventos regulares chamados ‘Pitchs e Drinks’ com os empreendedores locais. Um pitch é uma apresentação rápida de aproximadamente cinco minutos em eventos, a fim de captar recursos para as startups. “Nela, tu colocas teu modelo de negócios, o mercado e como monetizar”, explica Torma.
Parque Tecnológico
O Parque tecnológico aparece como um importante fator para agregar as empresas inovadoras em Pelotas. Lá estão as incubadoras ligadas às universidades e grande parte das startups do município – que também se espalham por outros pontos da cidade, dentre eles o Parque Uma, cita Rosani Boeira Ribeiro, diretora-executiva.
Além da integração entre os vértices do ecossistema, o Parque Tecnológico organiza e recebe eventos regulares ao longo do ano, e busca por parceiros e investimentos.
“São ações voltadas para quem está recém começando e não sabe como desenvolver, por exemplo. Compartilhamos experiências de outros empreendedores, enquanto no Parque Ativo disponibilizamos estratégias que atuam em eixos como a prestação de informações e apoio sobre créditos disponíveis a empreendedores e até mesmo qualificação técnica”, explica Rosani.
Startup
Uma Startup é uma empresa que coloca no mercado o produto de forma mais rápida do que uma “empresa tradicional”. Pode ser de três meses, no caso de startups de softwares, ou de até três anos, por exemplo a de biotecnologia, que necessita estudos e pesquisas mais aprofundados, explica Raul Torma, presidente do Candy Valley.
Processo de captação de recursos
Uma startup precisa de investimentos em diferentes estágios, segundo Torma. O primeiro, quando está em fase de ideação, geralmente é de até R$ 100 mil. Em Pelotas, devido ao conservadorismo empresarial, muitas vezes esse recurso é despendido de forma “particular”, do próprio bolso ou de pessoas do círculo social.
Depois vem a fase de “validação”, quando se apresenta o mercado potencial, e a da tração, quando se começa a vender e a tornar-se conhecida, e por fim a de escala, quando se ganha a fatia de mercado. “Os cheques vão aumentando, dependendo do nível da tua startup. Pode ser de R$ 500 mil até R$ 10 milhões”, explica Torma.
“Em Pelotas, no início os investimentos são próprios, até chamar a atenção de players maiores em Porto Alegre, por exemplo. A Melhor Envio teve investimento da Bossa Nova [fomentadora nacional], o que chamou a atenção às startups pelotenses que hoje tem esse contato mais facilitado”, completa.
Restrições de mercado
Além de presidente do Candy Valley, Raul Torma criou a Domos, uma startup de softwares low-code, que desenvolve softwares de maneira mais simplificada.
O empreendimento, segundo Torma, ainda enfrenta resistência no mercado tradicional, que “não entende a importância da sistematização de processos”.
“A gente tentava lidar com pequenos e médios negócios, mas houve essa dificuldade, então a gente ainda quebra essas barreiras. Agora migramos para softwares de gestão básico, para uma transportadora e escolar que estamos desenvolvendo”, relata.
Na Zona Sul
O Gerente Regional do Sebrae, Ciro Ricardo Vives, classifica a Zona Sul como “mais conservadora em relação ao resto do Estado para promover iniciativas de disrupção por meio da inovação, visando atrair empresas de tecnologia”.
Na região, o foco do Sebrae está em Pelotas e Rio Grande, municípios com potencial de atrair empresas do setor tecnológico, com parques formalizados e incubadoras vinculadas às universidades.
“São polos de saúde, com estruturas de qualidade [e potencial] para o desenvolvimento através da inovação, possuem aceleradoras que dão suporte e escala para startups, duas unidades Embrapii (UFPEL e FURG) para fomento de iniciativas para empresas de base tecnológica”, cita Vives.