O Consórcio Público do Extremo Sul (Copes) entregou 50% das 209 cisternas previstas para 15 municípios da Zona Sul do Estado, contemplados pelo programa do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) que promove o acesso à água para consumo humano e produção de alimentos através da implementação de tecnologias sociais simples e de baixo custo.
Na fase atual, que abrange Arroio do Padre e Pedro Osório, a soma de famílias beneficiadas chega a 100, que contaram com a chuva de sábado e domingo para abastecer seus tanques.
No Assentamento da Palma, em Capão do Leão, o valor dado à água potável é mensurado quando ela, até então, chegava fracionada e precisava ser racionada. No local, os pequenos agricultores não conseguem aproveitar a água que vem do subsolo por ser salobra e as das barragens não tem como ser consumida.
São cerca de 200 famílias que dependem do caminhão-pipa da Prefeitura. Já para 13 deles, a cisterna instalada em fevereiro passou a garantir mais autonomia.
Seu Olair Davi Macalli, 72, conta que já cavou muito na tentativa de ter umas cacimbas, mas a água é ruim. “Era difícil para nós aqui. Fiquei muito contente, porque, meu Deus do céu, sem água a gente não é ninguém”, diz o pequeno agricultor que mantém duas áreas com hortaliças, que servem para consumo da família para e abastecer a escola do local. “O que sobra, nós vendemos.”
Além do caminhão-pipa da Prefeitura, Macalli mantinha uma caixa d’água de 10 litros, que ajudava no uso da água para a família, mas sempre com restrições. “Deus o livre, Agora, para nós, é tudo bom”, comemora o agricultor ao admitir que vai ficar mais uns minutinhos no banho, pelo menos nos dias de muito calor.
As altas temperaturas e a ameaça de estiagem que se tinha até sábado, fazendo que muitos municípios já decretassem emergência, deixou em alerta o secretário de Desenvolvimento Rural e Econômico, Danilo Leite, que também coordena a comissão de secretários de Agricultura da Azonasul.
Na sexta-feira ele disse que se a chuva prometida para o final de semana viesse, não teria estiagem no município. E ela veio. O acumulado, no domingo pela manhã, não passou dos 7 milímetros, mas espantou o calorão que atingiu máximas de 35ºC a 37ºC na região. Já em Pedro Osório, o Inmet registrou quase 100 milímetros em 24 horas.
“Ficamos contentes de ter conseguido executar o projeto social no Capão do Leão, em tempo hábil. Essas cisternas foram construídas pelo Instituto Padre Josino, na média de dois dias, e a nossa contrapartida foi o apoio de retroescavadeiras”, acrescenta o secretário.
O agente de serviço da pasta, Luiz Fernando dos Santos e o diretor da SDR, Luís Fernando da Silva, acompanharam os produtores em toda etapa.
“É uma tecnologia social importante, muito disseminada lá para cima, no semiárido brasileiro e que a gente agora, por conta dessas estiagens sucessivas, recorrentes, precisa lançar mão. Acho que vem em boa hora, num momento que a gente com risco de mais estiagens pela frente”.
Água para o cultivo e tarefas domésticas
O casal de agricultores Ricardo e Romilda da Rosa, 61 e 58 anos, já fazem planos. Ele, de melhorar o seu cultivo de morangos. Ela de lavar roupas brancas.
“Nós temos uma demanda de água com qualidade aqui. Foram várias tentativas de postos artesianos, todas frustradas com água salobra. Para irrigação tem, mas não dá para o consumo. Agora, com certeza nós vamos ter uma água bem mais limpa”, comenta Rosa ao destacar que o poço já foi limpo e está à espera da água da chuva.
Dona Romilda só pensa em encher a máquina de lavar só com peças claras. “Roupa branca, para nós, só quando compra na loja. Já para segunda lavada já fica amarela, porque a água da barragem é uma amarela”.
Cronograma
Nessa etapa, 13 famílias foram contempladas, mas os planos da Prefeitura é que se possa ampliar. Além do caminhão-pipa para abastecer as comunidades, existem ainda os postos comunitários de abastecimento.
“Mas eu vejo que a cisterna garante mais segurança para família, porque é uma água que está ali”, ressalta o secretário. Ele lembra que o equipamento com um custo menor, sem a necessidade de bombear a água do subsolo, nem de uma barragem, pois ela cai do céu, limpa.”
Uma vez instaladas, as famílias precisam cuidar dos telhados e da calha. O próprio kit vem com um sistema que descarta a primeira água que carrega as impurezas. Uma pequena bomba leva o líquido para dentro de casa e, principalmente para o filtro de barro que vem junto com o equipamento. “Realmente foi um projeto bem pensado, bem estruturado e agora aqui bem executado”.
O que é o Programa Cisternas
O objetivo é promover o acesso à água para consumo humano e produção de alimentos através da implementação de tecnologias sociais simples e de baixo custo. Estabelecido como política pública desde 2003, é regulamentado pela Lei nº 12.873 de 2013, pelo Decreto nº 9.606 de 2018, e por várias portarias e instruções normativas.
Destina-se a famílias rurais de baixa renda (renda per capita de até meio salário-mínimo) e a equipamentos públicos rurais afetados pela seca ou falta de água, com prioridade para povos e comunidades tradicionais. Para participar, as famílias precisam estar inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.
De acordo com o Consórcio, após o período de enchente, no ano passado, que atrasou a construção das cisternas, o cronograma está em dia. A etapa de execução das obras está em Pedro Osório e Arroio do Padre, onde cada município recebe 13 cisternas.
Já foram concluídas em Canguçu (única cidade contemplada com 18 cisternas, sendo que as demais são 13), Santana da Boa Vista, Turuçu, Cerrito, Morro Redondo e Capão do Leão.
Faltam ainda Pelotas, Arroio Grande, Jaguarão, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte e São Lourenço do Sul.