Pelotas teve 732 casos de sífilis no ano passado, uma média de duas notificações por dia. Os dados foram divulgados no boletim epidemiológico de novembro e dezembro. Segundo relatório, os meses de janeiro, fevereiro e março foram os que apresentaram os maiores números de casos notificados pela vigilância epidemiológica, com 95, 81 e 107 infectados, respectivamente.
O painel também revela que o quadro de infecções manteve-se estável nos últimos meses do ano. Em novembro, foram notificados 79 casos, enquanto em dezembro (até o dia 20) foram 40 casos.
A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) curável e exclusiva do ser humano, causada pela bactéria Treponema pallidum. A transmissão ocorre principalmente por relações sexuais desprotegidas ou de mãe para filho durante a gestação ou o parto.
O diagnóstico é feito através de testes rápidos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), e o tratamento padrão é realizado com penicilina benzatina. Para a prevenção, o uso correto e regular de preservativos é essencial.
A infectologista e professora da UFPel, Danise Senna, destaca que atualmente não se fala mais em “grupos de risco”, mas sim em “comportamento sexual de risco”, ou seja, pessoas que têm relações desprotegidas e que não realizam testes regularmente.
Quanto às complicações a longo prazo da sífilis, ela menciona que uma das principais é a neurossífilis, que pode até causar demência, sendo uma das causas reversíveis de demência.
A titular da Secretaria de Saúde (SMS), Ângela Vitória, explica que a sífilis continua a representar um importante desafio de saúde pública em Pelotas. Para ela, o aumento das infecções pode ser atribuído a diversos fatores, como:
– A falta de conscientização sobre a doença e a prevenção por meio do uso de preservativo masculino ou feminino
– As dificuldades no acesso aos serviços de saúde e ao estigma em torno das IST
Além disso, os números são preocupantes por refletir diretamente em casos de gestantes com sífilis e sífilis congênita, uma infecção que pode comprometer seriamente a saúde de uma criança, podendo até mesmo causar o óbito.
Conscientização
A Rede de Doenças Crônicas Transmissíveis Prioritárias (RDCTP) trabalha para sensibilizar a população sobre a importância do uso do preservativo e o diagnóstico precoce com testagem rápida, disponível em todas as UBS juntamente com medicação.
A RDCTP confecciona e distribui material informativo, realiza campanhas pontuais e promove ações externas, oferecendo testagem rápida e a distribuição de preservativos masculinos e femininos. Essa aproximação com a população permite reforçar a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e oportuno.
A oferta de preservativos foi ampliada para pontos estratégicos da cidade, como rodoviárias, bares, mercados, entre outros.
Em 2024, foram distribuídos 590.400 preservativos masculinos. “Infelizmente, a procura por preservativos tem diminuído entre a população, apesar de todos os esforços”, afirma a secretária.
Outra ação implementada é a testagem de parceiros de gestantes nas maternidades, prevenindo a reinfecção das mulheres. A sífilis, embora apresente sintomas iniciais muitas vezes imperceptíveis, não se cura sem a medicação adequada.
Uso de preservativo
Janeiro, fevereiro e março registraram o maior número de casos, devido ao auge do verão e à ocorrência do carnaval. O preservativo é o único método que protege de todas as ISTs, e somente através da testagem é possível saber o diagnóstico.
Portanto, nesse período, a SMS solicita sempre às UBS que intensifiquem as ações de prevenção, orientação e testagem rápida entre a população.
Casos Sazonais
Após o Carnaval, segundo Ângela, é detectado uma procura maior por testagem. No entanto, a população deve se preocupar durante o ano inteiro, pois a sífilis circula em todos os momentos do ano.