Em pleno carnaval, o filme Ainda Estou Aqui trouxe uma conquista histórica: o primeiro Oscar de Melhor Filme Internacional para uma produção brasileira. O prêmio de Melhor Atriz para Fernanda Torres não saiu, infelizmente, mas o Oscar para o filme de Walter Salles consagra o cinema brasileiro.
O nosso Oscar (sim, é nosso!) também abre as portas para a arte brasileira no mundo. Assim como a vitória de Parasita, em 2020, lançou o holofote sobre o cinema coreano, agora é sobre o cinema brasileiro que os olhos do mundo se voltam. Com Ainda Estou Aqui, mais gente ao redor do mundo vai conhecer não apenas Central do Brasil, também de Walter Salles, mas os nossos clássicos, da genialidade de Glauber Rocha até a leveza do humor gaúcho de Jorge Furtado.
A vitória de Ainda Estou Aqui é ainda maior por ser um filme que olha para um dos momentos mais sombrios da história brasileira, a ditadura militar e o assassinato de quem ousasse ser contra o regime, sem apelar para o sensacionalismo. Rubens Paiva não era um guerrilheiro comunista armado contra o governo militar. O ex-deputado foi preso, morto e desaparecido por ajudar a entregar cartas de brasileiros exilados no Chile.

Fernanda Torres e Walter Salles com o Oscar (foto: Mark Von Holden / The Academy)
O filme não precisa de cenas chocantes para mostrar a violência que, assim como os Paiva, centenas de famílias brasileiras sofreram na ditadura. Eunice Paiva, personagem de Fernanda Torres, se torna um símbolo de resiliência e serenidade diante da truculência irracional de um estado autoritário.
Num país que se nega a olhar para sua história, Ainda Estou Aqui passa o passado a limpo da mesma forma que os argentinos já estão acostumados a fazer, como no filme Argentina, 1985, que levou o Globo de Ouro de 2022.
Viva o cinema brasileiro!