A inflação do povo é diferente da inflação do governo. A matemática doméstica é outra. Com mais subtrações para fechar o mês e tentar sobreviver aos efeitos colaterais das teorias econômicas que explicam – mas nem sempre justificam – aumentos de preços, taxas de juros e políticas decididas nos gabinetes de Brasília. As famílias conhecem exatamente onde o calo aperta, melhor do que qualquer especialista do Ministério da Fazenda ou Banco Central.
Gasolina, gás, luz, transporte, água, internet, escola, ovo, carne, pão, café, arroz, frutas, feijão, massa, óleo, leite e derivados. Essa é a realidade diária de milhões de brasileiros. Todos têm na ponta do lápis quanto pesam os centavos do salário na hora de comprar ou optar por alternativas aos produtos e serviços que, já caros demais, mês a mês desaparecem da lista básica dos lares.
A política econômica de Lula 3 vai mal. O governo federal anuncia programas segmentados a todo momento por acreditar nos efeitos milagrosos dessa fórmula no processo de aquecimento do mercado. A sensação é que prescreve a conta-gotas para um paciente entre o leito hospitalar e a UTI. A preocupação maior é com a popularidade – atualmente em queda livre – e não com a realidade do país, no terceiro mês do terceiro ano do terceiro mandato.
Outra reforma ministerial vem aí após o Carnaval. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi a primeira catapultada por ser técnica demais. Dará lugar a Alexandre Padilha, político demais. Aceno para tentar melhorar a relação com o Congresso, pouco interessado em ver a roda girar e mais preocupado, nessa altura do jogo, com as eleições de 2026. Não existe pacto pelo Brasil. As diferenças ideológicas seguem extremas e impedem qualquer razoabilidade. Para muitos, embora não admitam, é bom que siga assim.
Perdido num cenário de economia instável, política disruptiva, 76,1% das famílias endividadas, inflação com a maior alta para o mês de fevereiro em nove anos e agendas de imagem acima de agendas coletivas, encontra-se o trabalhador. Seu prato menos cheio virou propaganda nas mãos da oposição, que bate incansável no governo, focado em investir milhões no marketing pessoal.
Há um limite para tudo e a paciência do povo vem sendo testada como nunca por Lula 3. O governo tensiona a corda com a expectativa de reverter a situação no ano estratégico aos interesses das urnas. Enquanto isso, a geladeira acorda vazia, o carro roda com menos gasolina, o gás é racionado, os pagamentos atrasam, as dívidas são alongadas e quem trocou a carne pelo ovo já busca alternativas para substituir o ovo.
A memória da população está focada hoje no bolso, um alerta para qualquer governo.