Conheça os riscos da automedicação
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Corpo e Mente

Conheça os riscos da automedicação

Prática comum para 16,1% dos brasileiros tem seu uso mais associado a mulheres. Usuários devem ficar atentos aos riscos

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Atualizado domingo,
23 de Fevereiro de 2025 às 15:34

Conheça os riscos da automedicação

Hábito comum, a automedicação pode ser considerada o uso de medicamentos sem aconselhamento ou acompanhamento de um profissional da saúde. No Brasil, a prática existe entre 16,1% dos brasileiros, mas está mais associada a mulheres, entre 20 a 39 anos, com uma ou duas doenças crônicas. Os analgésicos e os relaxantes musculares são os medicamentos mais consumidos sem orientação, assim como a dipirona.

Mesmo alguns dos medicamentos sendo classificados como isentos de prescrição, a automedicação pode trazer inúmeros riscos. Um dos mais sérios é o mascaramento de sintomas de doenças mais graves, explica o professor do curso de Farmácia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Paulo Maximiliano Corrêa.

“Em vez do paciente procurar auxílio profissional, auxílio médico, ele fica tomando o medicamento por conta própria, que diminui o sintoma, mas não resolve o problema. Quando ele vai buscar ajuda médica, a doença pode estar bem mais grave”, comenta.

O professor ainda destaca que todo o medicamento possui um risco associado, mesmo aqueles considerados de venda livre. “O ideal é que a pessoa sempre tenha orientação na hora de fazer o uso de medicamentos, bem como também a questão da dosagem”, diz.

A professora de Farmacologia da UFPel, Marysabel Pinto Telis Silveira, comenta que a automedicação pode gerar reações adversas, que vão desde reações leves como gastrointestinais, náusea, vômito, como reações mais graves, que podem resultar em internação hospitalar. “Quando uma pessoa se automedica costuma não levar em conta, até por desconhecimento, os demais medicamentos que usa e como eles podem interagir entre si”, argumenta.

Automedicação por mulheres

Apesar de apesar de estudos internacionais indicarem que a automedicação é maior entre os homens, a Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização Promoção do Uso Racional de Medicamentos (PNAUM), desenvolvida pelo Ministério da Saúde, constatou que no Brasil a automedicação é praticada pelas pessoas do sexo feminino.

Algumas das justificativas são o fato de as mulheres sofrerem mais com dores de cabeça, dores musculares e condições dolorosas crônicas, como a enxaqueca, e utilizarem desde muito cedo analgésicos e relaxantes musculares para o alívio da dor durante a menstruação ou dismenorreia. A automedicação também esteve associada com as diversas faixas etárias do estudo, com maior destaque para os de idade entre 20 e 39 anos.

Medicamentos mais usados

A PNAUM entrevistou 41.433 pessoas em 2016, 33,4% aponta o uso de analgésicos sem prescrição; seguidos dos relaxantes musculares, 13,18% e anti-inflamatórios ou antirreumáticos, 11,7%. Conforme Corrêa, apesar do estudo não ser recente, é um dos melhores sobre o tema existente no Brasil, por abranger o país inteiro.

Por que a automedicação é tão comum?

Na avaliação de ambos os docentes da UFPel, a prática de automedicação é comum no Brasil, especialmente pela facilidade para comprar medicamentos. Marysabel cita outros motivos como falta de tempo e/ou dinheiro para ir ao médico, pela demora no atendimento em serviços de saúde públicos e por entender que o sintoma pode ser facilmente resolvido com um medicamento.

A docente também cita como mais um dos fatores responsáveis a venda de medicamentos com tarja vermelha, denominados com “venda sob prescrição médica” serem comercializados sem receita médica por não serem controlados pela vigilância sanitária. “Já para os medicamentos controlados, que pertencem a outras categorias, a automedicação torna-se bem mais difícil”, avalia.

Existe automedicação segura?

O ideal é nunca se usar algum medicamento sem a recomendação de um profissional da área da saúde. De acordo com o professor, quando a pessoa está habituada a usar, para uma dor de cabeça ocasional, resfriado comum, azia ou má digestão ocasional, por exemplo, é difícil dar um maior problema para o paciente.

Entretanto, o ideal é que pelo menos a pessoa converse com um farmacêutico ao ir à farmácia, para obter orientação da dose, do tempo que esse sintoma pode perdurar antes dela procurar um médico. “Pelo menos uma consulta com o farmacêutico é bem importante”, ressalta Corrêa.

Até aspirina e paracetamol, medicamentos isentos de prescrição, não são isentos de risco. A aspirina, por exemplo, pode causar sangramento gástrico se a pessoa não sabe que tem úlcera ou gastrite, ou de uma interação medicamentosa importante que pode ocasionar grandes danos à saúde. O paracetamol pode causar hepatite medicamenosa”, explica Marysabel.

Quando é indicado procurar o médico?

Sempre que o sintoma permanecer mesmo após o uso do medicamento, é indicado procurar um médico. Da mesma forma, se o sintoma for frequente ou ainda se permanecer algum sintoma após o uso do medicamento. O professor ressalta que o farmacêutico é um profissional que está à disposição da população nas farmácias e ele pode orientar a pessoa no momento de procurar um médico.

“É importante a pessoa perceber o sintoma responsável pela automedicação. Caso ele não passar com o tempo, ou sintoma voltar assim que o efeito do medicamento passa é indicado a consulta médica”, explica.

Cuidados na hora de tomar um medicamento

Ao tomar um medicamento, é preciso prestar atenção à dose, o horário e o tempo de tratamento, se precisa realizar jejum por ter interação com alimentos. Marysabel reforça a importância de atentar para o intervalo entre as doses para a pessoa não se intoxicar. “Também é preciso observar sempre a questão de como tem sido esse tratamento. Se não resolver o problema, ela tem que buscar ajuda médica”, diz.

Atenção ao tipo de medicamento, se é comprimido, se é por via oral, dispersível (dissolvido antes de administrar), por exemplo. “Muitas vezes a pessoa não sabe ou não recebeu essa orientação. Ela compra o medicamento e não percebe que para tomar o comprimido é preciso dissolvê-lo antes”, comenta Côrrea.

O docente reforça que medicamentos sempre devem ser ingeridos com água, em um copo cheio. Medicamentos não devem ser ingeridos com suco, com leite, com refrigerante, por exemplo.

Como partir o medicamento?

Apesar de considerado uma orientação complexa, pois o ideal é não partir os medicamentos, a regra geral orienta que o único medicamento que pode ser partido é o comprimido que é sulcado, com a marcação de onde o medicamento pode ser cortado. Marysabel orienta sobre a importância de ler a forma de apresentação do remédio.

Em caso do comprimido revestido, não pode ser partido. “Esse revestimento pode ser, por exemplo, para impedir a ação do ácido clorídrico do estômago sobre ele, ou para retardar a sua absorção”, justifica. Se necessitar partir, preferencialmente utilizar um partidor específico para comprimidos, que tem à venda nas farmácias.

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