O mais novo livro do cartunista Rafael Sica, Estive em Horroroso e lembrei de você, surge como um convite à reflexão sobre o desenvolvimento das cidades e a falta de conexão delas com seus moradores. Horroroso sai do imaginário do artista, mas tem cenas comuns a diferentes localidades, basta estar atento para perceber. A obra, que será lançada em março, está em pré-venda pelo site da editora Cia das Letras.
Com mais de 100 desenhos, o livro não traz uma história linear, porém as imagens se conversam e trazem consigo uma ideia de convívio em um meio urbano, que expõe as suas vicissitudes. “Estive em Horroroso e lembrei de você é um olhar arregalado sobre as cidades, sobre a relação desequilibrada entre as pessoas e o ambiente onde elas vivem. Gritos de socorro não serão ouvidos em Horroroso”, descreve o arquiteto Ricardo Luís Silva, no pósfácio da publicação do selo Quadrinhos da Cia, da Companhia das Letras.
Autor de mais nove publicações, desta vez o pelotense abriu uma exceção e levou para capa e contracapa do livro uma fotografia. A imagem é do fotógrafo, também pelotense, Paulo Rossi. “Eu queria muito que tivesse uma foto na capa, porque não existe cidade sem uma fotografia, nem sem um fotógrafo. Então eu convidei o Rossi”, diz. O texto da orelha do livro é da quadrinista Amanda Miranda.
Período de isolamento
O livro começou a surgir na pandemia, em 2020, quando Sica recebeu um e-mail da poetisa pelotense Angélica Freitas, que queria escrever algo a partir dos desenhos do cartunista. A proposta foi um estímulo ao artista gráfico começar a buscar na própria casa, porque estava em isolamento, inspiração para desenhar. As fotografias antigas de família foram esse catalisador, delas saíram algumas poses dos personagens de seus primeiros desenhos.
O projeto com a Angélica não foi adiante, mas deixou como saldo a série que deu origem ao novo livro. “Fiz muitos desenhos em sequência e comecei a observar que aquilo ali era um lugar, ao mesmo tempo um lugar de afeto, mas também de estranhamento. No fim a gente seguiu a nossa conversa por outros caminhos e eu segui fazendo os desenhos”, relembra o artista.
Para Sica a série transmitia uma ideia de cidade, uma qualquer que ele viu, viveu ou que visitou com frequência. Com os desenhos ele traça paralelos, com um município possível, no qual as pessoas podem andar por ele diariamente, com o seu multiverso, basta prestar atenção para enxergar Horroroso. “É como andar por qualquer cidade e prestar atenção a essas falhas nas estruturas”, diz.
Três caminhos
O desenhista vê nas cidades três caminhos possíveis, o de afeto, aquele que é de cada um, o da obrigatoriedade, aquele caminho que você tem que ir, independentemente de gostar ou não. O terceiro se refere àquele que deve ser evitado, que é considerado perigoso, por exemplo.
Essas três rotas despertaram o artista para a criação das imagens de Horroroso. “Essa ideia de progresso, tecnologia, desenvolvimento, que é muito vendida, são coisas que a gente não enxerga no cotidiano, basta ir num ponto de ônibus ou observar o esgoto a céu aberto em muitos bairros. Estamos muito distantes dessa realidade. A gente vive num lugar precário, não só na questão urbana, mas na humana também. É uma cidade que não entrega aquilo que as pessoas precisam”, argumenta.
Horroroso está nessa falha do tempo. Com uma caminhada inexorável para o futuro, mas com um pé no passado. “Todo mundo tem uma cidade imaginária, Horroroso é como se fosse uma Satolep, uma Passárgada, uma Esbórnia”, argumenta.
Serviço
O quê: livro Estive em Horroroso e lembrei de você, de Rafael Sica
Onde comprar: https://encr.pw/48fRf
