Expedição de brasileiros na Antártica apresenta impactos das mudanças climáticas
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quarta-Feira12 de Fevereiro de 2025

Missão internacional

Expedição de brasileiros na Antártica apresenta impactos das mudanças climáticas

Pesquisadores encontraram microplástico e fuligem de queimadas no continente

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Expedição de brasileiros na Antártica apresenta impactos das mudanças climáticas
Avaliação é de que derretimento das geleiras vai contribuir diretamente com o aumento do nível do mar. (Foto: Divulgação)

Após mais de 70 dias de missão, a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica (ICCE) retornou ao Porto de Rio Grande no dia 31 de janeiro. Alguns dos resultados já foram divulgados pelos pesquisadores participantes.

Durante a missão foram coletados mais de 90 metros de testemunhos de gelo, seis de testemunhos de sedimentos, realizadas atividades em 19 estações para determinar temperatura, salinidade, acidez do oceano Austral em diferentes profundidades (até dois mil metros), coleta de amostras contínuas de dados da superfície do oceano e o lançamento de 43 balões atmosféricos (até 30 quilômetros de altitude). Agora esses materiais serão analisados por laboratórios ao redor do mundo, contribuindo para uma visão mais ampla das transformações ambientais na região.

“Estamos vendo que o clima está apresentando pontos de mudanças rápidas que podem desestabilizar o sistema e esse é o desafio: as informações científicas estão aí, mas as decisões são políticas”, salienta o pesquisador líder da Expedição, Jefferson Simões.

Microplástico na Antártica

Conforme os pesquisadores, a fuligem das queimadas e o microplástico chegaram ao gelo antártico. Presente na missão, Filipe Lindau aponta que o alto consumo de plástico no mundo associado com o descarte nos oceanos faz com que a água e o vento o levem para longas distâncias.

“Grande parte do que chega na Antártica se dá pelas correntes e o vento sobre o oceano. Nessa expedição buscamos coletar amostras em locais mais remotos e, agora, vamos analisar o material para entender como o microplástico tem evoluído nos últimos anos”, explica.

Alerta para o aumento do nível do mar

O aumento do nível do mar é o primeiro indicativo mais visível aos pesquisadores, com um aumento do nível do mar dinâmico (oceano e atmosfera) em 12 centímetros nos últimos dez anos, impactando diretamente o nível do mar no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Em longo prazo essas regiões não serão afetadas apenas pelo nível do mar, mas também pelos ventos que estão mais fortes e atuam no represamento das águas dos rios, como ocorreu com o Guaíba na enchente de maio de 2024.

Para Simões, o continente está contribuindo atualmente com menos de 10% do aumento do nível do mar, mas vai passar a ser o principal contribuinte porque está aquecendo mais. “As geleiras dos trópicos estão derretendo com alta velocidade. Está claro, isso não tem volta e terá impacto nas nossas praias, portos, defesa costeira”, alerta.

O pesquisador ainda argumenta que “até 2100 temos uma projeção de aumento médio do nível do mar entre 28 e 110 centímetros, sendo que 50% derivam do derretimento das geleiras e 50% da expansão térmica do mar. Atualmente, a Antártica contribui com 15 milímetros desse aumento em cada década”.

Missão pioneira e colaboração internacional

A Expedição reuniu 57 cientistas de sete países – Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia –, sendo 27 brasileiros ligados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera e a projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq).

A iniciativa foi financiada majoritariamente (97%) pela fundação suíça Albédo Pour la Cryosphère, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).

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