Formada na primeira turma da Escola de Belas Artes na década de 1950, a pelotense Hilda Mattos desenvolveu sua carreira artística em Porto Alegre. Sua produção foi intensa e se estendeu até pouco antes da sua morte em 2016, aos 88 anos. Agora, em tratativas para receber parte de seu acervo, a direção do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, da Universidade Federal de Pelotas (Malg/UFPel), quer preparar o público para o que está por vir, apresentando uma exposição com seis quadros do período de formação da artista.
Figurações – pinturas de Hilda Mattos (Pelotas, 1928 – Porto Alegre, 2016) / Fase Escola de Belas Artes de Pelotas, com curadoria da professora, crítica e curadora de Artes Visuais Neiva Bhons e da estudante Lilian Bandeira, revela os procedimentos metodológicos de ensino praticados naquela época na EBA, fundada em março de 1949. Na época, Hilda e suas colegas, tinham aulas com artistas-professores, como o italiano Aldo Locatelli e o uruguaio Nestor Marques Rodrigues, o Nesmaro. Educadores para a arte que exigiam o desenvolvimento apurado de técnicas de desenho e pintura.
Apesar de nunca ter se distanciado da arte e ter seguido na direção das artes moderna e contemporânea, o Hilda Mattos caiu no esquecimento na sua terra Natal, comenta a professora Neiva, do Centro de Artes da UFPel. “O objetivo dessa exposição é começar a colocar o nome dela na memória dos alunos e dos pelotenses. Para isso a gente precisa começar a falar do início”, explica Lilian, aluna da licenciatura em Artes Visuais, que desenvolve pesquisa sobre a artista para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Recorte pontual
A turma de Hilda era predominantemente feminina, uma característica dos anos iniciais da Escola. “Ela foi colega de outras várias mulheres artistas, como de Inah Costa. Figuras importantes na estruturação do campo artístico de Pelotas”, lembra a professora. Para a exposição, as curadoras fizeram um recorte bem pontual, abrindo mão de obras posteriores ao período dela na Escola. “Por uma questão metodológica, para podermos olhar para a cultura que era produzida na época, para uma artista em formação. Mas dá para ver que ela era muito boa”, fala Neiva.
Lilia lembra que Hilda não era uma candidata preferencial da escola. Quando abriu a instituição, a irmã da artista, que também gostava de pintar e desenhar, foi convidada, porém não aceitou. “A vida dela foi desenhar. Ela se interessou em entrar na Escola e que bom que ela entrou. Ganhamos muito com esse querer dela, ela se destacou desde o início e ganhou o segundo lugar no concurso de formatura”, explica Lilian.
Logo depois de formada, Hilda foi para Porto Alegre, onde entrou como assistente da Escola de Belas Artes da capital. Para Neiva fica claro que ela desejava seguir a carreira artística, tanto que se casou aos 30 anos, idade considerada tardia para a época. Ao longo de 20 anos lecionou Educação Artística, quando parou se dedicou integralmente à arte.
Figura humana
O interesse de Hilda era o desenho da figura humana, uma técnica que ela aperfeiçoou ao longo dos anos. “A gente vê o crescimento dela, do poder de síntese que ela foi desenvolvendo. Os últimos desenhos eram feitos com poucas linhas”, fala a diretora do Malg, professora Lizângela Torres.
Nos anos 60, a artista entra para o Ateliê Livre da capital. “Ela fez um esforço muito grande para aderir à arte moderna. Aí ela vai se libertando, fazendo o que ela quer. Nos anos 80 ela já é outra artista, por isso é importante o público conhecer desde o início e se preparar para o que está por vir”, comenta a professora Neiva.
Programe-se
O quê: exposição Figurações – pinturas de Hilda Mattos
Visitação: até 4 de março, de terça a sábado, das 12h30min às 18h
Onde: Malg/UFPel, praça 7 de Julho, 180