“A missão é salvaguardar a tradição doceira da cidade”

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“A missão é salvaguardar a tradição doceira da cidade”

Professora da UFPel, Nóris Mara Martins Leal está à frente do Museu do Doce e já participa da organização há 15 anos

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“A missão é salvaguardar a tradição doceira da cidade”
Noris participa da organização há 15 anos. (Foto: Ana Claudia Dias)

Diretora do Museu do Doce da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desde 2023, a professora Nóris Mara Martins Leal, está na segunda gestão, a primeira ocorreu entre 2013 e 2016. Porém a pesquisadora está envolvida com a entidade desde que entrou na Universidade, integrando a equipe de criação e implantação do Museu há 15 anos, sediado no casarão 8 da praça Coronel Pedro Osório, bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Como surgiu o Museu do Doce?

Surge de uma demanda de parte da comunidade que estava ligada à Fenadoce, que viram a necessidade que Pelotas tivesse um museu do doce, tanto que nos anos de 1998 e 1999, lá na Feira foi feita uma exposição chamada Museu do Doce. Foi criado um grupo que começou a discutir a implantação de um museu na cidade e depois uma associação de amigos. Nesse processo, junto com a prefeitura e com o Iphan, eles definiram que a sede seria na Casa número 8, porém o imóvel ainda pertencia à família Antunes Maciel, então tinha que ter um andamento de desapropriação, mas isso nunca aconteceu. Em 2006, o professor César Borges, na época reitor da UFPel, que não sabia desse andamento, comprou a casa da família. Foi quando o Iphan disse que a casa teria que ter o museu. O professor César assumiu essa ideia. Ele formou uma comissão dentro da Universidade para pensar o Museu do Doce. Todo o restauro (2009-2013) foi bancado com recursos do MEC (Ministério da Educação), essa foi a casa que não teve Monumenta para restauro do prédio.

Qual a missão deste Museu?

A missão é salvaguardar a tradição doceira da cidade e da antiga Pelotas, pegando os distritos que faziam parte e que hoje são municípios. Como estamos num Museu universitário, é reforçada a questão de desenvolver projetos de ensino, extensão e pesquisa. E toda a nossa linha de trabalho é de preservar essa história do doce pelotense, mas também de comunicar e desenvolver projetos para que a gente possa levar adiante essa tradição. A partir de ações educativas que a gente faz, que a gente possa levar a comunidade e que essa tradição não termine pelo esquecimento. Além das diferentes formas do fazer doceiro.

Do que é constituído esse acervo e quantas peças tem?

O nosso acervo não é muito grande, mas estamos com cerca de mil objetos, a gente começou a colecionar a partir de 2016. Eles se dividem em objetos usados para produção de doce das casas, das doceiras artesanais, das fábricas de doces finos, que é um acervo que a gente tem menos coisas e que conta a história das confeitarias e das fábricas de doces da cidade, que foi o nosso grande carro-chefe por muito tempo. A gente tem uma coleção que nos permite trabalhar com essa história do doce em compota, de frutas desde as primeiras fábricas até os dias atuais. E também material que conta a história da Fenadoce.

Por que os doces de Pelotas se tornaram tão importantes, sendo reconhecidos como patrimônio imaterial do país?

A questão, principalmente do pêssego e das frutas, trazia um diferencial aos nossos doces. A cidade, por ter uma riqueza enorme e ser diferenciada do resto do Estado em relação ao refinamento – tinha a coisa do bem-servir, as festas e os saraus que faziam com que se tivesse muitos doces – que é algo que o dinheiro te permite. Mas o doce que mais se falava era a nossa passa de pêssego, inclusive ele está sumindo, por ser caro e ter uma forma de produção demorada. A gente encontra relatos dos viajantes dizendo da fama de Pelotas, principalmente pelas passas de pêssegos, apesar da gente já fazer muitos doces, que é demonstrado pelo livro de Receitas dos Doces de Pelotas, e as próprias compotas nos fizeram muito conhecidos. As confeitarias, a gente muito cedo teve confeitarias em Pelotas, desde o final do século 19, se igualando ao que acontecia na corte, com doces muito requintados, principalmente os de bandeja e os bolos, pudins, flans e sorvetes. Eram muito variados os doces das receitas das doceiras. Num livro do Érico Veríssimo, ele fala que para além das passas de pêssego, que todos já sabem do conhecimento, existe uma outra diversidade de doces que “é de dar água na boca”. A gente tem a Júlia Almeida, no início do século, faz um livro de viagem pelo Rio Grande do Sul que fala dos doces de ovos que a surpreenderam. Essa produção era conhecida, mas não tinha essa importância. Depois da Fenadoce existiu todo um trabalho para ressaltar a tradição doceira e buscar que ela fosse considerada patrimônio cultural. Principalmente, depois que a CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas – entra para organizar a Fenadoce, a gente vê um trabalho constante para transformar o doce em patrimônio cultural.  Ele é primeiro reconhecido no Estado, depois se consegue o selo de procedência de origem.

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