Nove empresas estrangeiras aguardam a licença do Ibama para a realização de pesquisa sísmica na Bacia de Pelotas. A atividade é realizada com embarcações sísmicas para levantar as áreas com o maior potencial de reservas de petróleo para futuras perfurações de poços. As empresas interessadas na pesquisa são multinacionais, com origem em países como Austrália, Estados Unidos, França e Noruega.
De acordo com informações do Ibama, além dos nove pedidos para pesquisas exclusivamente na Bacia de Pelotas, há uma solicitação para o mapeamento na divisa entre a Bacia de Pelotas e a de Santos. Outras duas licenças já foram concedidas, incluindo a da empresa norueguesa Shearwater Geoservices, que já realiza levantamentos em 3D em uma extensão de dez mil quilômetros quadrados na bacia.
O Ibama informa ainda que em função da grande quantidade de solicitações de licenças simultâneas para a Bacia de Pelotas, os pedidos estão sendo analisados em conjunto, levando em consideração a sinergia dessas atividades.
De acordo com o professor especialista em geologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Giovani Cioccari, é comum que diante da grande extensão de blocos da bacia, várias pesquisas sejam contratadas pelas empresas que têm o direito de exploração da área. “Para fazer a sísmica e outras para realizar outros estudos como gravimetria, magnetometria”, diz.
O mapeamento sísmico
A pesquisa sísmica marítima é semelhante a uma ultrassonografia, realizada com o uso de equipamentos sísmicos visando encontrar estruturas com potencial para armazenar óleo e gás. Diante do potencial impacto no ambiente marinho, todas as atividades precisam de licença do Ibama para serem realizadas.
Segundo o Ibama, para os licenciamentos das próximas atividades na Bacia de Pelotas, serão realizadas consultas públicas em função do impacto socioambiental e da repercussão dessas atividades.
O impacto no ambiente marinho
O Ibama destaca três impactos ambientais que podem ser causados pela atividade sísmica especificamente na Bacia de Pelotas:
- Impacto na atividade pesqueira. A consequência é especialmente significativa nas embarcações que pescam com espinhel de superfície.
- Impacto nas aves marinhas, principalmente albatrozes e petréis. Conforme o Ibama, a primeira atividade que ocorreu na Bacia de Pelotas provocou a morte de diversas aves, que mergulhavam e se chocavam com os cabos sísmicos.
Desde então, o Ibama está exigindo a adoção de medidas de mitigação desse impacto e de monitoramento desses cabos, a fim de verificar se ocorrerão novas colisões de aves mesmo com as medidas de mitigação.
- Impacto nos mamíferos marinhos e nas tartarugas marinhas, proveniente dos intensos pulsos sonoros produzidos pelas fontes sísmicas para a realização da pesquisa. Na Bacia de Pelotas, a espécie mais preocupante é o cachalote, por ser ameaçada de extinção e presente nesta região.
Diante disso, as atividades têm recebido a solicitação de projetos de mitigação do impacto sonoro e de monitoramento dos mamíferos marinhos.
Já o professor Giovani Cioccari diz que os impactos são pontualmente e sem gravidade. “Apenas afugentando animais marinhos por um curto espaço de tempo, logo que cessarem as ondas sísmicas eles retornam ao habitat.”
A Bacia de Pelotas
A área foi leiloada pela Agência Nacional em dezembro de 2023 e teve 44 blocos arrematados. Vinte e nove deles por dois consórcios – Petrobras/Shell/CNOOC e Petrobras/Shell – e 15 pela Chevron. Em dezembro do ano passado, mais 34 blocos foram disponibilizados em edital para leilão pela ANP.
A região da Bacia é mapeada desde o alto de Florianópolis (SC) até a divisa com o Uruguai. A área começou a receber mais atenção após a descoberta de grandes jazidas de petróleo na Namíbia. Como a formação geológica da costa do país africano é semelhante ao litoral sul do Brasil, remontando ao período do grande continente Gondwana, as chances de reservas na Bacia de Pelotas se tornaram mais promissoras.