A forte chuva que atingiu Arroio do Padre na última sexta-feira deixou um rastro de destruição e trouxe prejuízos milionários, especialmente para os produtores de fumo, principal atividade econômica do município. A tempestade, acompanhada por granizo em algumas localidades, devastou lavouras e afetou a infraestrutura rural.
Ao todo, existem cerca de 700 produtores no município. Desses, entre 30 e 40 foram afetados pelo temporal e tiveram, em média, perdas de R$ 150 mil. Levantamento realizado pela reportagem estima prejuízo total entre R$ 4,5 milhões e R$ 6 milhões.
O prefeito Juliano Buchweitz (PP) explica que a chuva da última semana foi localizada. “Diferente do que vivemos em setembro de 2023, desta vez o temporal passou por uma linha, afetando principalmente as estradas, pontes e os produtores dos bairros Leitzke e Progresso, sem maiores danos ao Centro”, afirma.
Perdas e desafios
Os danos são sentidos especialmente por produtores que dependem exclusivamente da fumicultura para o sustento. Clairton Tessmer, 53 anos, é um deles. Ele destaca que perdeu toda sua lavoura, com 42 mil pés de tabaco.
“Eu já tinha colhido a parte mais baixa da folha, mas o ponteiro, que é o principal, a chuva levou antes. Todos os 42 mil pés. Agora eu e a família vamos ter que gerenciar o pouco que colhemos e aguardar a próxima safra”, lamenta o produtor, que estima o prejuízo em R$ 130 mil.
Lauri Daniel Kitter, 36 anos, também descreve o tamanho da sua perda. “Eu tinha 90 mil pés e perdi a metade. Um prejuízo entre R$ 150 mil e R$ 180 mil, sem contar o valor que poderia ter sido arrecadado com a venda”, afirma.
Ele também destaca que o tabaco estava no momento ideal para a colheita. “Tive dedicação o ano inteiro cuidando da lavoura. O fumo estava lindo, tinha folhas prontas na lavoura com mais de um metro, que foram destruídas”, descreve.
Redução nas perdas
A reportagem acompanhou a visita de representantes da Associação dos Plantadores de Fumo em Folha no Rio Grande do Sul (Afubra) à propriedade de produtores afetados para estimar a perda total no município. O levantamento deverá ser finalizado nos próximos dias e dará prosseguimento ao seguro que cobrirá os gastos do plantio.
Apesar do auxílio, Kitter afirma que apenas ele não é suficiente. “Estamos aguardando a Afubra passar por aqui, porém, o dinheiro do seguro deve demorar quase dois meses para chegar até nós, além de cobrir pouco do prejuízo”, argumenta.
O prefeito garante que, a partir do levantamento da Afubra e da Emater, será possível realizar medidas para buscar recursos estaduais e federais aos atingidos. “Com o levantamento, vamos analisar se faremos um decreto para que essa parcela do município possa se encaixar em algum programa social”, afirma.
Impacto na economia local
Com a forte dependência econômica na fumicultura, as perdas na lavoura devem refletir diretamente na economia local.
“Atualmente, a produção de fumo corresponde a mais de 70% da economia. E quando acontece alguma intempérie como a de sexta-feira, reduz a produção e com certeza acaba refletindo na nossa economia, na redução das compras no comércio, na redução dos serviços”, afirma o prefeito.
Ele destaca que o município possui, há alguns, anos um plano de incentivo financeiro para produtores que diversificam sua produção, mas que ele ainda não tem grande adesão devido ao alto valor da venda do tabaco.
“O fumo é muito rentável e outras atividades não chegam ao mesmo valor, o que faz com que a população só queira investir na fumicultura”, avalia.
Infraestrutura
Além das perdas nas lavouras, a chuva danificou estradas vicinais e pontes que ligam as áreas rurais ao centro do município. De acordo com a prefeitura, o nível do arroio Pimenta subiu cerca de cinco metros acima do normal, inundando diversas áreas.
A ponte que faz a divisa entre Arroio do Padre e Pelotas ficou interditada até a manhã de ontem, quando teve sua cabeceira reestruturada. Situação semelhante vive a outra ponte, conhecida como Dirong, que está com acesso parcial.
Dados da Defesa Civil local também indicam que uma moradora teve sua casa destelhada e solicitou atendimento. A mulher já teve sua residência reestruturada.
Reconstrução
De acordo com a prefeitura, o trabalho de reconstrução iniciou ainda na sexta-feira, logo após o término da chuva. “Começamos os trabalhos com as máquinas para liberar os pontos que eram essenciais para a trafegabilidade e que era possível a realização imediata”, disse.
O secretário de obras, Otto Augusto Klug, destaca que o foco atual dos serviços está na reestruturação das cabeceiras das pontes afetadas, para depois partir para as estradas. Para ele, será necessário cerca de dois meses para que a trafegabilidade total do município seja retomada.
“Só com a patrola nós não conseguiremos fazer nada. Vamos precisar de pelo menos 50 cargas de cascalho para espalhar nos mais de 60 quilômetros de estrada, o que vai demorar entre um e dois meses”, explica.
Klug também afirma que serão necessários ao menos R$ 80 mil para a realização dos serviços.
O temporal
A tempestade iniciou por volta das 17h de sexta-feira e foi acompanhada por granizo em algumas regiões. Em apenas uma hora, foram registrados 134 milímetros de precipitação, o equivalente a 95% da média mensal de janeiro, que é de 144 milímetros.