Um dos maiores produtores de grãos do país, a Zona Sul do Estado tem na escassez de mão de obra uma limitação para o crescimento da produtividade. Uma pesquisa conduzida na região revela que as propriedades rurais têm apostado na automatização de processos, desde o plantio até a colheita, tornando o trabalho mais prático, e na oferta de salários mais altos. Mesmo assim, os atrativos não têm garantido o interesse do trabalhador mais jovem na área rural.
Conduzida pelo professor dos cursos de Administração e de Processos Gerenciais da UFPel, Alexandre Braga, até o momento a pesquisa foi realizada com oito propriedades rurais de médio porte, que empregam cada uma 15 funcionários. O propósito é procurar quais os fatores seriam entraves para o aumento do desenvolvimento de atividades agrícolas. “E o principal é a questão da escassez da mão de obra. Todos têm esse mesmo problema, esse mesmo gargalo”, relata.
Melhores condições de trabalho
Diante da demanda, a pesquisa foi voltada a levantar quais seriam as ações adotadas pelos produtores para mitigar esse déficit de trabalhadores. Entre as medidas estão um esforço crescente para garantir a valorização do trabalho rural por meio da oferta de capacitações e treinamentos, melhores condições de alimentação, moradia e de remuneração, incluindo sistemas de comissionamentos por produtividade.
“Por outro lado, a idade média dos trabalhadores rurais ainda permanece mais elevada, demonstrando uma baixa renovação nos postos de trabalho”, diz o professor.
Na mesma linha, o diretor da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Fernando Rechsteiner, relata que em pequenas propriedades, que geralmente só utilizam a mão de obra familiar, muitas vezes há um problema de continuidade (sucessão) na propriedade. “Já nas médias e grandes, que fazem a contratação de colaboradores, há esse déficit de mão de obra disponível”.
Investimento em inovação e tecnologia
O pesquisador destaca que grande parte das propriedades tem investido em novas tecnologias, automatizações de máquinas, sistemas e conectividades, por exemplo. Um atrativo ao trabalhador mais jovem.
No entanto, essas condições não têm sido suficientes para a ocupação de cargos, e com processos mais tecnológicos é mais difícil a adaptação de funcionários mais velhos. “Então essas máquinas que estão vindo hoje, que necessitam de interação tecnológica, estão ficando fora desse pessoal mais antigo, daqueles que não se modernizaram”, explica.
Com isso, a expansão das atividades e da produtividade tem sido ameaçada no campo. “Por isso então que efetivamente precisam ser feitas ações nesse sentido, de achar gente, porque senão daqui a pouco o negócio fica comprometido”, enfatiza Alexandre Braga.
O professor ressalta que, diante desse contexto, a pesquisa busca estabelecer um diálogo para apresentar à comunidade dos centros urbanos uma nova perspectiva sobre o trabalho rural. “Não é só máquina, alguém tem que tocar a máquina, alguém tem que cuidar, alguém tem que abastecer, enfim”.